Entrevista: Salto


Muitas vezes ouvimos dizer que o caminho rumo ao sucesso faz-se um passo de cada vez… Mas isso é para os comuns dos mortais. Os Salto, fazendo jus ao seu nome, “saltaram” de barreira em barreira até se tornarem hoje uma das mais importantes bandas de indie pop portuguesa.

Lançando-se ao ar em 2007, Luís Montenegro e Guilherme Tomé Ribeiro já tratam o mundo musical português por tu com apenas 6 anos de carreira musical. O seu álbum de estreia (homónimo) saiu no Verão passado, mas as pilhas de críticas positivas só provam que podia ter sido lançado há 20, 30 ou 40 anos atrás que continuaria a saber-nos pela vida. 
Juventude, acção, animação e, acima de tudo, muita qualidade é o que estes “homens do norte” têm para nos oferecer, e ainda bem que são generosos. Fiquem com o melhor das perguntas e respostas que trocámos com estes nossos novos amigos. Obrigado Guilherme e Tomé, esperamos ouvir falar de vocês por muito, muito tempo.

Na vossa página do My Space destacam nomes como os Beta Band, Paul Weller ou até mesmo os Jackson Five, todas elas bandas clássicas e intemporais. Contudo, a música que fazem é claramente moderna e futurista, mais virada para a “frente” do que para “trás”. Sendo assim, qual é, para vocês, a importância que os velhos clássicos têm para a criação musical moderna?
A novidade vem sempre influenciada por algo que aconteceu no passado, pode até ser um pequeno pormenor, por isso torna-se, pelo menos para nós, essencial conhecer e perceber a música que marca as diferentes gerações.

Apesar de ainda muito jovens, vocês já andam nestas andanças desde 2007, apesar de só terem ganho mais notoriedade nos últimos dois anos, servindo o vosso caso de exemplo para demonstrar o tempo que os artistas portugueses demoram a alcançar alguma visibilidade. Porque acham que isto acontece? Tem mais a ver com o público nacional (que demora a aceitar novas sonoridades) ou com os apoios e oportunidades por parte do mundo da música?
Não há uma só razão. O espaço para as novas bandas tem vindo a aumentar, tanto a nível de programação como também nas rádios. Esperamos que esta tendência se mantenha porque eleva a fasquia e contribui também para um aumento da qualidade. O aumento da qualidade vai atrair mais público e o mercado cultural só tem a ganhar. Tudo isto contribui para a identidade cultural do país, algo que não se pode perder.

Como vocês, muitas outras bandas jovens, portuguesas, têm vindo a nascer e a sedimentarem-se no nosso panorama musical de hoje. Acham que estamos a assistir a um renascer/rejuvenescer da música portuguesa? Se sim acham que estamos a tempo ou já levamos uns aninhos de atraso?
A música portuguesa sempre se reinventou mas a duração desses períodos era talvez mais extensa do que agora. A resposta para hoje em dia de tudo ser mais rápido , em maior quantidade e talvez qualidade, está na facilidade e universalidade de acesso a uma enorme quantidade de informação. Desde de podermos todos os dias ouvir bandas novas e também conhecer melhor o que foi feito em décadas anteriores até à possibilidade de podermos conhecer as últimas tecnologias, softwares, instrumentos, computadores. Tudo isto contribuiu muitíssimo para uma fase na música portuguesa tão rica. Esperemos que a tendência seja para melhorar e para estimular o público a ter sede de ouvir mais.

Há uns anos apresentaram-me uma banda como sendo os James Blake portugueses. Essa banda eram os Salto. Na altura até achei a comparação mais ou menos acertada, mas hoje acho que acabaram por se afastar bastante desse som. Só têm um álbum, mas os Salto já existem desde 2007. Acham que já passaram por diferentes fases e sonoridades?
Definitivamente passámos por diferentes fases e sonoridades. Começámos com duas guitarras acústicas, passámos por guitarras eléctricas, baixos, synths, sampler’s e programações e agora temos a juntar a tudo isto um terceiro elemento (baterista). A nossa maneira de encarar a música passa também por esta ideia de reinventarmos a forma como tocamos e como apresentamos um espetáculo, por isso será de esperar que no futuro mais alterações possam acontecer.  
Lembrando novamente os primeiros tempos dos Salto e comparando-o com aquilo que hoje atingiram, alguma vez pensaram chegar onde chegaram? São hoje um dos maiores nomes do panorama alternativo português.
Falta-nos ainda muito para fazer. Temos tido espaço para mostrar a nossa música e isso é fruto de muito trabalho, não só nosso mas de toda a gente que nos rodeia e que tem-nos ajudado a crescer. Estamos muito contentes com as oportunidades que temos tido.

"Não vou mais ficar atrás de quem não quer ver": eis um simples verso que virou um hino e, se calhar, uma espécie de lema para esta geração. Esta é também a forma como encaram o vosso dia-a-dia?
Encaramos o nosso dia-a-dia sempre com uma grande vontade de superarmos aquilo que já fizemos pois acreditamos que essa é uma importante forma de chegar mais longe. Esse “lema” que falam vai ao encontro desta vontade de irmos mais longe, de não perdermos tempo com coisas que nos desviem do essencial.

Lemos algures que ambos estudaram música no ensino superior. Para além deste facto provar uma paixão enorme pela música, de que forma é que influenciou e influencia na música que fazem hoje?
Foi de facto uma grande influência para o que é a nossa produção hoje em dia. No curso que tirámos, Produção e Tecnologias da Música na ESMAE, aprendemos técnicas de gravação, de produção, de mistura, aproxima-mo-nos de tecnologias, softwares e debruçamo-nos sobre a história, a estética e cultura musical. Tudo isto contribuiu significativamente para a forma como produzimos e ouvimos música.

Há poucos meses apresentaram o remix da "Verdade" dos Capitão Fausto. Consideram importante olhar o trabalho de outras bandas e, quem sabe, trabalhar em conjunto com outros projectos? Qual é a assim a banda com quem mais gostariam de trabalhar?
Olhar o trabalho dos outros por si só parece pouco. Procuramos ouvir o que as pessoas têm para dizer com a sua música e deixar-nos influenciar naturalmente. Nos últimos tempos, por dedicarmos o nosso dia-a-dia à música, temo-nos aproximado de muitos músicos e bandas, o que tem gerado este tipo de parcerias e dado, também, muitas ideias para possíveis colaborações futuras. Todos estes momentos são verdadeiramente ricos e vão ao encontro de um dos grandes motivos pelos quais fazemos música – a partilha.

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