Argumento: The National


Estamos numa sala escura, nublada. Paredes de estantes forram o nosso redor, esta divisão melancólica e acolhedora. Temos livros de lombadas gastas mas de qualidade superior; o melhor cabedal, cozido com a melhor linha e ilustrado com os melhores pigmentos. Temos fotografias de paisagens distantes, de cidades grandes, monocromáticas e vazias, de praias invernosas com céus carregados. Temos música: discos, cassetes, vinis afogados por vozes profundas que cantam solidão e amor, vozes que já cá não estão mas que continuamos a ouvir como se estivessem. Agora estão expectantes, maravilhadas, cheias: o palco não é delas hoje. 
Palmilhamos um soalho vincado por um sem fim de caminhares sonhadores, lunares, onde uma secretária portentosa, de mogno cristalino completa o cenário, juntamente com uma cadeira de cabedal de costas altas, protetoras. Sentamo-nos, algo nos está a vergar. Algo que vem de todos os recantos deste nosso pequeno mundo: parece etéreo, omnipresente. Um som divino, cheio, embalador. Cordas que vibram em mãos de ouro, baquetas que transformam cabedal em bateres-de-coração fortes, pulsantes, e a voz… aquela voz. Árida de falsas verdades, grave, robusta e, acima de tudo, verdadeira. Embala os nossos corpos e mentes, cria esperanças e sara desilusões, desgostos. Uma voz que canta o que o coração não consegue dizer.
O ambiente cresce, os ritmos sobem de tom, os pelos da nuca também. Fechamos os olhos, nesta cadeira de cabedal frio, sentimos o cheiro da melancolia que se sente nos nossos ombros, nas nossas cabeças, e vemos o mundo à nossa volta girar. A tristeza vira alegria passando por saudade e desgosto. A depressão ganha asas e explode no ar com voos de confiança e orgulho. Basta deixarmos este som entrar, esta maravilhosa música, para vermos todas as cores do mundo e dos homens. Ouvimos Matt, Brice, Bryan, Aaron e Scott. Ouvimos letras que nos mostram mundos lindos. Ouvimos sons que, como agulhas, fazem tilintar todos os nervos do nosso corpo. Ouvimos amor, perda, solidão, intervenção, futuro e esperança. Ouvimos mundos que desejamos que sejam só nossos. Ouvimos The National.

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