Depois do enorme êxito do álbum de estreia, chega-nos às mãozinhas o novo álbum de Cruzfader, Sam the
Kid, Fred Ferreira, Francisco Rebelo e João Gomes, a.k.a. os Orelha Negra.
Sempre me disseram que existe
música para os pés e música para o coração, que boa música pode ser tudo e mais
alguma coisa, de Chopin a SBTRKT, mas nunca ninguém me avisou que existia
também “música do coração para os pés”. Música que assim que te tilinta nos
ouvidos, automaticamente grita-te também pelo corpo todo de onde é que vem, o
que quer e para onde quer ir. Que vem em som mas se transforma, na tua carola,
em imagens, e no teu corpo, em passos de dança mais ou menos totós, dependente
do espécimen em questão. De facto,
temos a sorte de hoje em dia, existir um púlpito sagrado onde os músicos que
conseguem fazer isto se juntam e fazem aí a sua casa, mas a verdade é que muito
poucos conseguem fazê-lo tão bem como estes jovens.
No primeiro LP, Sam the Kid sempre disse que o
objetivo deste projeto se prendia em “acabar com a tralha intelectual e fazer
uma coisa que o público de classe média/baixa, das classes mais baixas,
conseguisse vibrar com esta música” e, apesar de não concordar com o nivelar
por classe, acho que a missão é mais que valorosa e cumprida de tal maneira,
que nem um agente Ethan Hunt, numa das suas 258 missões impossíveis, faria
melhor. Sem complicações, sem grandes trocas e baldrocas, os Orelha conseguem
fazer música pura e envolvente.
Tudo isto que vos acabei de
dizer, muitos de vós, que gostam disto tanto quanto eu, já devem saber de cor e
salteado, muito graças aos excelentes lançamentos que já nos deram, mas este novo
disco, é tal e qual a feijoada da avó que fica horas ao lume para
apurar a molhanga. É um refinar do estilo a que nos têm vindo a habituar, onde
o hip-hop, funk e soul são ingredientes principais, e umas novas sonoridades,
um pouco mais sexys e divertidas, são os novos temperos. A este som já forte e
com caparro vestem uma lingerie comestível, doce e ao mesmo tempo sensual, que
deixa em êxtase qualquer amante de beats puxados. Temos dois excelentes exemplos desta metáfora da bela da
cueca e sutiã açucarados com a música Blue Tu e o single Throwback, sendo
a primeira malha uma daquelas que te faz improvisar moonwalks manhosos mas
sentidos, e a segunda sedutora
como as curvas… de um carro desportivo vermelho e descapotável (sim, porque por
enquanto ainda não fazemos referências sexuais… só por enquanto).
Poderia ficar aqui a falar desta
nova circunferência de plástico, tão valiosa quanto ouro, durante dias e dias,
mas não há nada como serem vocês próprios a atarrachar uns phones e a ouvirem
estes trechos de magia musical, quase tão “pausados” como o rapazito estiloso
que aparece na capa do álbum, por isso esqueçam outras extremidades e
concentrem-se nos Orelha. Olhem que vai valer a pena.
Texto escrito por: Diogo Lopes
Enviar um comentário