Quem
mais partilha do sonho de um dia poder pegar numa caravana a cair de podre e
percorrer costa a costa, em plena route
66, a América inteira? Digamos que o sonho ganha com os Alabama Shakes a
banda sonora perfeita. Encabeçado por um verdadeiro furação de nome Brittany
Howard, o quarteto coloca o Alabama no roteiro da viagem. Para quem sempre
viveu a América através do cinema e de tudo o que a cultura globalizada veio
trazer, Boys and Girls, apesar de
respirar tantos traços da história americana, acaba por fugir ao quadro
enjoativo do american dream.
Felizmente.
Para
os Alabama Shakes a música nunca foi um lugar de grandes sonhos. Esta sempre foi algo
muito mais simples e pessoal, um pouco como o Alabama aparenta ser. Esse canto
meio perdido no mapa e que serve de casa e inspiração para a banda, ganha com Boys and Girls outra dimensão. É
impossível não se sentir o misto de prisão e de saudade que Brittany Howard expressa
em relação à sua casa. Ora se quer livrar dela em Hold On, ora sente a sua falta em Rise to the Sun.
Esta simplicidade que demonstram é uma vitória e é algo que nos deixa ainda mais pegados a Boys and Girls. A sua transparência abre alas a uma sonoridade intemporal, de tal forma que acabamos por viajar até à América negra, a uma missa daquelas igrejas dos coros gospel, onde todo esse universo nos chega através da clássica voz - e portentosa voz - soul de Brittany Howard.
A
ritmos diferentes mas igualmente cativantes, Hang Loose ou Boys and Girls,
são mais dois bons momentos de um álbum que apesar de extremamente simples e
fechado em tradições musicais, acaba por lhes dar a volta e as renovar. Boys and Girls ganha pela frescura e
pela forma como nos põe a sonhar e a desejar um pôr do Sol estrada fora. A não perder, este Verão, no deserto do Meco.
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