A vida é feita de acasos. Dar de
caras com o Pedro Gonçalves no metro e com um pedido desavergonhado, conseguir
uma entrevista, é um exemplo disso mesmo. Ainda assim, pensar que os Dead Combo
são uma espécie de imprevisto, parece-nos estranho. O talento não depende da
sorte ou do azar pois com arte e engenho se escrevem grandes histórias. A
destes senhores parecia há muito estar escrita mas só recentemente decidimos virar a página e lembrarmo-nos que há mais do que um Ronaldo em Portugal. Por
aí se diz que tudo vale a pena quando a alma não é pequena e o sucesso da banda
não reprova de modo algum a expressão: Desde o início dos Dead Combo que as nossas
expectativas foram sempre muito reduzidas. Nunca pensámos que um grupo de
música instrumental alguma vez iria ter o reconhecimento que estamos a ter.
Obviamente que isso nos faz extremamente felizes, mas não é o reconhecimento
que nos faz mover mas sim a música. E foi, sem dúvida, através da
música que conseguiram pôr um país a gostar de homens de fato e gravata. Mas
será que a responsabilidade aumentou? A responsabilidade é algo que deixamos para
os governantes. Pumbas, um a zero para os Dead Combo.
Embrulhados infinitamente na
novela das nossas vidas – a crise – os Dead Combo foram capazes de ressurgir
dos escombros de um país que cada vez mais sente a necessidade de encontrar,
desde a cultura ao desporto, elementos com os quais nos possamos orgulhar e
alegrar. Pode a crise fazer-nos olhar de maneira diferente para aquilo que é
nosso? Talvez. Acho que qualquer tipo de crise é sempre uma boa altura para
olhar para o que nos colocou nesta situação e aprender com os erros. Embora
esta crise ser unicamente da responsabilidade daqueles que “governam” o mundo,
o certo é que nos faz olhar para aquilo que nos é mais próximo e querido.
Talvez nos faça olhar para o nosso povo e perceber as excelentes qualidades que
possuímos e que andamos sempre a desprezar. Dois a zero.
Numa altura em que Portugal vai
perdendo, dia após dia, parte dessas “excelentes qualidades”, onde cada vez
mais se procura, algures no mapa-mundo, um lugar que olhe para nós, os Dead
Combo tudo têm para fazer parte da banda sonora de qualquer emigrante. Seja
onde for, qualquer tema da banda servirá de remédio santo para quem tem saudadinhas
de casa, do bom tempo, do bitoque, do mar ou do bacalhau. No fundo, tornou-se
ainda mais difícil não olhar os Dead Combo como parte da identidade nacional.
Mas se os Dead Combo fossem Portugal por um dia, que país iríamos encontrar? Um
país mais justo, com todas as implicações que isso acarreta. Um país que acima
de tudo valorizaria a sua identidade cultural e social. Um sistema de justiça
que seria realmente justo, um sistema social realmente social e acima de tudo
um sistema político que fosse realmente para o povo e não em proveito próprio.
E os Dead Combo começam a golear.
Embora o vínculo com a casa mãe
da dupla, ter saído reforçado com Lisboa
Mulata, voltou a ficar bem patente que os Dead Combo seriam mesmo cidadãos
do mundo. Que outros lugares servem de inspiração? Lisboa sendo a nossa cidade é a
mãe, mas temos bastantes mães adoptadas. Existem inúmeras cidades reais e
imaginárias às quais vamos beber. Passando no continente americano, africano e
europeu. A Ásia ainda está por descobrir. Por descobrir, parecem
continuar a estar as personagens e todo o universo ao qual os Dead Combo
insistem em viajar: Os personagens que criámos surgiram de forma natural e foram crescendo
ao longo do tempo. São indissociáveis dos Dead Combo. Quando compomos,
naturalmente que reportamos ao nosso universo, mas não pensamos muito no que
estamos a fazer. Deixamo-nos levar pela corrente. Só posteriormente é que
analisamos o que fizemos e o justificamos. Quanto ao futuro, o que podemos
esperar? Quanto ao futuro só mesmo quando lá chegarmos é que saberemos! Sinceramente,
para nós, venha o que vier, achamos que como qualquer herói, os Dead Combo vão
ser lembrados. Para sempre.
Por: Afonso Sousa
Enviar um comentário