AO VIVO: Thundercat no Musicbox, Lisboa 15.06.2012

Devo confessar uma certa preguiça da minha parte no que toca a ver bandas ao vivo seja por falta de tempo para ver aquelas que realmente interessam, seja por falta de interesse para ver aquelas que dá para ver quando há tempo. Talvez seja do meu gosto esquisito ou então do trauma de ter sido atropelado por um gajo de 100kg num dos primeiros concertos a que fui (era black metal, ainda por cima) e ter espalhado os meus óculos pelo chão no meio de um desagradável mosh.
Apesar disso, a noite de ontem já era esperada com uma certa histeria desde que descobri que Thundercat fora anunciado para tocar no Music Box, muy agradável espaço do Cais do Sodré com o qual a maioria dos concert-goers lisboetas já se devem encontrar familiarizados. Stephen Bruner (baixista de nomes como Erykah Badu, Suicidal Tendencies e Flying Lotus) veio finalmente à capital portuguesa em jeito de apresentação do seu The Golden Age of Apocalypse, disco de estreia lançado em 2011. Não houve casa cheia - mais espaço para respirar e assistir a uma grande demonstração de um dos músicos mais promissores desta nova década.
Acompanhado apenas de uma bateria altamente efusiva e de um teclado que também não deixa escapar os seus momentos de brilho, o baixo de Bruner não sossega durante todo o concerto ao deambular entre os riffs melódicos do álbum (que transpiram amor) e geniais demonstrações de virtuosismo de um dos melhores artistas que a Brainfeeder deu a conhecer ao mundo nos últimos tempos, fazendo a viagem pelos meandros do jazz em fusão com toques funk e uma electrónica espacial que se ouve em CD parecer um tanto ou quanto contida depois de um concerto destes.
Com a mesma rapidez que um supositório faz desaparecer algumas maleiras do ser humano (comparação pouco inspirada, admito), Thundercat proporcionou uma exibição curta mas poderosa com versões estendidas dos seus temas quase como em jeito de compensação pela ausência de certos elementos das suas ricas produções. Houve tempo para tudo aquilo que de bom há em The Golden Age of Apocalypse, desde a genial Daylight (orelhuda como o caralho, senhores) a uma Boat Cruise que teve direito a repetição em encore e uma das mais calorosas recepções por parte de um público que se foi soltando progressivamente. Os temas com menos propensão para o repeat no álbum (e já esta afirmação é um bocado ousada) soaram aqui dez vezes melhor com uma nova roupagem, como Jamboree e Seasons. Até houve espaço para uma versão refinada de MmmHmm (!!!), tema do último álbum de Flying Lotus (Cosmogramma).
Talvez por ser um disco que ainda vai tão fresco na cabeça de quem vos escreve estas palavras este concerto tenha sido mesmo muito bom, mas não há como negá-lo - Thundercat é, volto a reforçá-lo, bem capaz de ser um dos mais refrescantes músicos que os 2010's nos deram até agora, aliando o virtuosismo a riffs e estruturas naturalmente orelhudas com garra, groove e amor num género que não se pode considerar particularmente inovador. E ao vivo demonstra isso na perfeição.
(infelizmente não há fotos nem vídeos, mas podem ver o senhor Bruner ao vivo em LA já aqui em baixo)

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