SEMANA SEM FRONTEIRAS: Trio Tekke, a prova de que boa música também pode vir de casas de chuto. (por Diogo Lopes)

Nos dias de hoje, não há muita coisa que possamos dizer que esteja a crescer para os lados da Grécia para além de: juros, contestações e nuvens de gás lacrimogénio, mas, se procurarmos bem, encontramos outra coisa, a música saborosa. Depois de muito vasculhar, encontrei os cipriotas Antonis Antoniou e Lefteris Moumtzis que, juntamente com o Anglo-Chileno Colin Somervell, formam os Trio Tekke.
E agora perguntam-me vocês: “Mas que raio é que a Grécia têm a ver com um anglo-chileno e um par de cipriotas?!” E eu respondo-vos: “É Rembetika pessoal!” Ou melhor, Neo-Rembetika. “Rebenta quê?!”. Música tradicional grega!
Este estilo de música de nome difícil, chega-nos de pai e mãe incógnito (professores com monóculos afirmam que a origem mais provável esteja nas antigas cidades da ásia menor), muito por causa do género de pessoas que a fizeram nascer. Com os inúmeros conflitos e confusões que envolveram os Helénicos e os seus vizinhos, o país viu-se sempre com mãos-cheias de emigrantes e exilados que vinham de vários sítios diferentes e, como eram muito pouco instruídos, nunca iam muito à bola com os géneros de música mais erudita, como tal, “montaram-se no cavalo”. É verdade, estas franjas da sociedade da altura, reuniam-se em tekkes (daí o nome do trio), ou, por outras palavras, em salas de chuto, onde partilhavam os seus dissabores ao som de bandolins e de vozes reconfortantes.
Durante muito tempo este tipo de música foi proibido, e foi perdendo gás, mas com o passar dos anos e com o mudar das mentalidades, voltou a espreitar e a mostrar-se de novo. É aqui que entram os Trio Tekke.
Criados em 2005, os Tekke, ainda só em formato de duo (Lefteris e Antonis), estudaram este género de música e procuraram torná-lo mais “Século XXI”. Foram inovando aos poucos, mas foi com o novo membro, Colin Somervell, que ganharam mais contemporaneidade, muito graças à introdução de um titânico contrabaixo. A partir daí, foram conjugando os seus estilos musicais favoritos como reggae e jazz com o da tradicional Rembetika, produzindo um stock considerável de malhas muito, muito fixes.
Lançaram o primeiro disco em Setembro de 2009, intitulado Ta Reggetika, que, apesar de ter letras completamente indecifráveis para quem não fale grego, vê-se cheio de significado nos instrumentais emotivos, onde as cordas reinam. O segundo álbum, Samas, ainda a cheirar a novo (saiu em 2011), tem sido recebido com excelentes críticas, recebido vários prémios, de tal maneira que já afirmam que será os mentos na coca-cola dos Trio Tekke, levando-os mais além.
Na minha opinião, acho que estes companheiros têm muito que se lhe diga. São muito versáteis, fazendo de cada faixa quase um mundo em si, que, para além de nos colocar diretamente na nossa própria casinha branca e azul dos montes gregos, têm um travo a caril e a arroz chao-chao, mostrando as lascas de oriente que a Rembetika original tinha. Juntam na perfeição o velhinho com o novo, fazendo jus ao neo-Rembetika, e mostrando que no Olimpo da boa música não há crise que entre.
Texto escrito por: Diogo Lopes

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