É difícil não se ver o termo
world music como uma ideia imperialista tal é o esforço que faz em lembrar que
música fora do eixo Inglaterra-Estados Unidos é também ela música deste mundo. Esta
não deve ser olhada com o mínimo desdém pois encontra dentro de si um peso
cultural que nos vale uma viagem aos cantos mais recônditos deste planeta. Como
quando ouvimos um qualquer rancho djibutiano, de pronto imaginamos as vestes tribais, o cheiro a terra, as
danças da chuva: a world music leva-nos lá, onde ela pertence.
A somar a tudo isto, é fácil encontrar
na sua imensidão, um sentimento que une toda a sua diversidade: a alegria. Contemplem
uns Gogol Bordello, um Omar Souleyman ou um Emir Kusturica, recentes heróis nos
palcos nacionais, mas também hits como a Macarena,
a La Bomba do grande King Africa ou
até os eternos O-Zone que com Dragostea
Din Tei bombaram mais que ninguém, e veja-se que já dançamos ao som da
world music praticamente desde que aprendemos a andar. Podemos é não ter muita
noção disso e como tal, aqui fica mais um convite para esta comemoração.
Directamente da Terra Santa, os
Boom Pam transpiram a mesma energia libertária que a world music tende a
transpirar. Festim, festa, festival, festança são o hino de uma vida para
gentes para quem a pobreza é o pão nosso de cada dia. Este trio israelita vai
buscar tudo isso e, como não podia deixar de ser, pede a mão ao pai Kusturica, em
influências por demais evidentes na
sonoridade estonteante e alucinada, a ritmo de circo e com muita vinhaça à
mistura.
Os Boom Pam são filhos herdeiros
desta celebração, mas acontece que, nos tempos da sua juventude acabaram por
mergulhar em álbuns de The Ventures ou de uns Led Zeppelin e deu nisto: uma
amálgama de forças que os encaixam exactamente como músicos do mundo. Activos
desde 2003, contam já com três álbuns editados. De Tel-Aviv declamam acelerados
versos num hebraico absolutamente indecifrável, ainda que dando, muitas vezes,
espaço a temas instrumentais onde somos brindados com um experimentalismo que
mais parece uma brincadeira de crianças.
Se o termo world music faz
realmente algum sentido, é em música que vai buscar elementos de diferentes
lugares, indiscriminadamente mais americanizados como a guitarrada de Uniton ou o rock musculado de Hatul VeHatula que em nada envergonharia
uns Black Keys, ou as mais balcânicas Sabalé
ou Souvlak guiadas pela tuba e pelos
ritmos que a caravana da família Bordello há muito nos habituou. Há muita
coisa, mas no fundo, há um groove
viciante, um depósito atestado a cada álbum que carbura este motor israelita de
200 cavalos sem parar. Com coisas destas, quem disse que o rock tinha morrido?
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