CRÓNICA: O patrão fala de... música do mundo

Não há melhor maneira de começar uma crónica (?) do que dizendo o que já milhões de vezes foi repetido pelos míticos sabedores e poetas desse vasto mundo que é o da música, mas a originalidade escasseia e como eu não sou o Rui Miguel Abreu não tenho histórias de vida tão interessantes quanto isso para contar: toda a gente sabe que os rótulos conseguem ser por vezes a mais inútil, relativa e abrangente forma de categorizar música. Ainda assim parece que todo o mundo os adora porque secretamente cada um de nós tem aquele desejo secreto de cunhar o nome do novo género da moda tipo Chillwave. Glo-fi. Witch House. Transcendental Black Metal. Post-dubstep. Ah, estes bloggers musicais do caralho, sempre a inventar rótulos para modas que morrem passados seis meses.
Voltando à parte do "abrangente", falemos do tema desta semana especial do EDLTD: a música do mundo. Não é um termo que tenha necessariamente perdido o seu sentido, mas na sua definição geral engloba um conjunto tão grande de géneros e influências que transforma o acto de definir o som mais característico duma certa banda num desafio impossível. Porque pôr no mesmo saco sonoridades tão díspares como o afrobeat, balkan music, cumbia, raga e até fado é, no mínimo, ingrato e por isso é que fazer um artigo sobre música do mundo em geral é tão complicado. Não se fala somente de um género, de uma sonoridade, de um contexto específico.
A riqueza da arte está não só na sua forma mas também no seu significado. Falar de World Music é falar de elementos musicais intrínsecos à cultura de cada país, região ou sociedade, de raízes inseparáveis que lhe conferem uma identidade e um retrato de um tempo. Ouvimos nos ritmos e sons de cada género essas origens, razões, histórias e limitações que fazem as pessoas que os tocam desde Tinariwen a Mariza. Ou pelo menos o resultado das suas influências.
Numa época em que a globalização se impõe de forma sufocante é bom fazer do lugar pequeno que o mundo se tornou também um espaço de partilha de conhecimento, de identidades e culturas. Conhecê-las através da música é juntar o útil ao agradável. Se se perde tanto tempo em busca do novo sonzaço da moda ou aquela cena que está aí a bombear, porque não absorver aquilo que muitas vezes acaba por ser a sua origem um bocado melhor?
Ou então há também quem se esteja a cagar para isso e curta sentir um Kusturicazinho para descomprimir. Nada contra. Boa música é e será sempre boa música.
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Para ouvir fica Ali's Here, de Ali Farka Touré. O álbum chama-se Niafunké (1999).


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