HOMENAGEM: A minha homenagem a Adam MCA Yauch e aos “Rapazes Bestas”. (por Diogo Lopes)

Para quem diz que a morte é natural…vão pó caralho. Não há remédio, camisa-de-forças ou algemas que consigam conter a tristeza e revolta que o desaparecimento de alguém próximo causa e eu, eu estou triste e revoltado. No dia 4 de maio de 2012, o membro fundador dos Beastie Boys, Adam Yauch, faleceu vítima de um cancro contra o qual já lutava há cerca de quatro anos. Estou musicalmente de luto.
Num mundo onde uns, tão mediocremente, querem lançar o mundo on fire e outros pseudo-hipsters fazem odes a calças de ganga azuis, os cotas que lhes “puseram a mesa musical” são deixados para trás e esquecidos até, mas isso não é o que mais mexe comigo. Como apologista do só interessa quem cá está, sei que quem realmente gosta das rebeldes guitarradas e beats hipnóticos dos BB, não vai em modas e sabe distinguir ouro de cocó. O que me revolta é o constante roubo que a vida nos faz, fazendo questão de nos tirar os melhores dos melhores. Porque têm de ser os bons a irem-se embora e os fraquinhos a ficar? Porque nos calham os que “falam, falam e não dizem nada” e silenciam-se os professores que nos ensinam com baterias, MPC’s e baixos? Sinal dos tempos fúteis e quase descartáveis em que vivemos? Talvez. Mas vejo isto e não me contento.
Esta linha de pensamento leva qualquer um a viver num buraco e a tornar-se louco, mas como não me dava muito jeito atirar-me da janela ou tomar uma banhoca com uma torradeira ligada, expresso o meu desagrado e protesto contra estas injustiças celebrando quem interessa, quem merece, quem, sem peneiras, aduba-nos o interior e mostra-nos os vários caminhos diferentes de “ser” que existem, para além daquele outro percurso intransitável pelo engarrafamento de carneiros.
Os meus (e muito provavelmente, espero, vossos) “Home boys” americanos, Adam Yauch (MCA), Michael Diamond (Mike D) e Adam Horowitz (Ad-Rock) já se envolviam no mundo underground do Punk Rock americano na sua adolescência, fazendo, intencionalmente, a vida negra às suas famílias judias tradicionalistas, Mas os passos definitivos no mundo da musica já, com o nome de  Beastie Boys, foram dados por Mike D e Yauch juntamente com a baterista Kate Schellenbach e o guitarrista John Berry no início dos 80s.Chegaram a lançar um disco ("Pollywog Stew"), mas nunca atingiram grande reconhecimento neste formato. Uns tempos depois Horowitz juntou-se à equipa, Kate e John deram de frosques, e foi sempre a somar a partir daí. Com o seu primeiro grande êxito ("Cookie Puss")  a explodir naqueles bares manhosos do underground Punk de NYC conquistaram os seu primeiros seguidores, mas seria em 84 que abandonariam o Punk como veia musical principal, e apontavam baterias ao Hip-Hop, onde se mantiveram até hoje. Assinaram pela Def Jam Records, abriram concertos de colossos como Run-DMC ou até mesmo Madonna, e, no meio de esta subida meteórica, lançaram o seu primeiro álbum, "License to Ill", que foi recebido de braços abertos pela juventude, mas altamente criticada pelos pais, mães, avós e padrinhos dessa mesma juventude, que o consideravam extremamente agressivo. Sem nunca deixarem o estilo violento e arrojado do punk, iam lançando pérolas como "Fight for Your Right to Party" ou "No Sleep Till Brooklin" que treparam os charts durante vários meses. Mas, entretanto, o acordo com a Def Jam deu para o torto e passaram a vestir a camisola da Capitol Records, que produziu o seu novo e psicadélico CD, completamente diferente do seu estilo anterior (mais brando), intitulado "Paul’s Boutique". Já com uma toada mais inteligente, iam, aos poucos, trocando a paulada na testa pela chapada de luva branca, sendo o seu próximo álbum ("Check Your Head"), de transição entre os dois estilos diferentes, e, mais tarde, como culminar desta mudança, lançaram o monstruoso êxito "Ill Communication", que com singles como "Sure Shot" ou "Sabotage", ganhou dupla platina.
Nesta altura já eram ídolos dos amantes de Funk, Hip-Hop, Punk e Electrónica, o que lhes dava estatuto para perseguir as suas fervorosas causas políticas como a luta pelos direitos do Tibete, e ainda, para erigirem a sua própria editora, Grand Royal. Depois disso, lançaram o EP "Aglio e Olio" e o álbum "The In Sound From Way Out" (este ultimo só de instrumentais), até 1998, quando saiu o ansiado quinto álbum, "Hello Nasty", que lhes deu dois grammys e nos deu a nós grandes malhas como "Intergalactic e "Body Movin". Seguiu-se o grande "5 Boroughs" em 2004 que, para mim, é o clímax de toda a sua carreira. Finalmente, temos o recente "Hot Sauce Committee", que mostra outra face dos Beastie Boys, bem mais eletrónica, mas com o mesmo sentido de humor e acutilância de sempre. Assim, com sete álbuns de originais, 12 EP’s, 35 singles e 36 videoclips, posso,… não, digo mesmo, que os Beastie Boys são um dos maiores marcos musicais do século XX.
A verdade é que posso continuar a narrar-vos a história, os prémios e os recordes destes meninos, mas os artistas não se guiam por números ou datas, guiam-se por emoções, sentimentos, e tendo isso em conta, acho que a melhor maneira de os descrever é dizendo-vos o que eles me fazem sentir, os pontos onde eles tocam cá dentro. Esta é a homenagem maior que podemos fazer a qualquer produtor de material artístico, mostrar-lhes que o que eles sentiram e passaram para papel, música ou tela fez eco em alguém, fez alguém sentir o que eles próprios sentiram. E como puto superprotegido e controlado que sempre fui, posso dizer que eu me revejo nestes três grandes músicos.
Eu sempre quis lutar pelo meu direito de me divertir ("Fight For Your Right to Party"). Sempre quis lutar contra monstros extra-terrestres em cenários de cartão manhoso ("Intergalactic"). Quantas vezes, também, não me passeei por corredores “politicamente correctizados”, imaginando as chapadas na mona mentais que muitas vezes apetece dar a amiguinhos e amiguinhas enquanto "So What’cha Want" gritava-me aos ouvidos. Quantas vezes não tive espasmos musculares que procuravam crescer e chamarem-se dança, ao ouvir "Brass Monkey".
Enfim, companheiros de bons e maus momentos, tal e qual como amigos devem ser, foi o que estes rapazes não bestas mas bestiais foram para mim. Ok, vários músicos e bandas podem ter estas características, mas nem todos conseguem sê-lo tão genuinamente como estes putos (sim porque para mim vão ser sempre putos) escanzelados, que com inteligência e humor, muito humor, largavam bombas.
E é assim meus caros… não só perdi um ícone musical mas perdi um amigo. E para todos os que sentem o mesmo, digo-vos: não chorem a morte, celebrem a vida. Com uma jola e gargalhadas à fartazana, riam-se dos videoclips espetaculares que faziam, oiçam e, mais importante ainda, sintam o que as suas letras e músicas fortes e originais diziam. Se assim o fizerem, tenho a certeza que o Adam, onde quer que ele esteja, se sentirá honrado e feliz de ter fãs tão espetaculares como a música que ele e os seus companheiros faziam.

Texto escrito por: Diogo Lopes

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