ENTREVISTA: Sensible Soccers, quando se junta Gabriel Alves com música experimental.

Poborský, Jardel, Doriva, Pringle ou Iordanov. Todos os guardamos em casa nas velhinhas cadernetas de cromos. Os Sensible Soccers fizeram delas música. Do videojogo para a realidade, o quarteto português tem entrada directa na fase de grupos da Champions depois de uma temporada de luxo. Aos braços de Sensible Soccers EP ou de Fornelo Tapes Vol. 1, a banda saboreia os primeiros títulos de uma ainda curta carreira: “só há pouco tempo é que conseguimos reunir as condições para avançar com os Sensible Soccers. Sempre estivemos ligados à música de alguma forma e por isso sempre existiu essa vontade logo não foi necessário alguém nos convencer a começar.
Todo o talento que já vão espalhando pelos campos que nem jovens promessas, encontra no EP de estreia da banda, uma exibição digna de encher o olho. Acabando de vez com os trocadilhos futebolísticos, Sensible Soccers EP repousa neste quadro abstracto cheio de cor e de rabiscos aleatórios que, na verdade, não o são. Do experimental ao psicadélico, os Sensible Soccers criam um universo paralelo, que respira fragilidade, nostalgia e um calor especial que pede obrigatoriamente uma visita. Wild Piano ou Fernanda (entretanto remisturada por Elite Athlete e com “participação especial” do único Gabriel Alves, como não podia deixar de ser) são magistrais monumentos esculpidos à mão.
Embora o passado seja muitas vezes invocado (Zaire 1974 ou Missé Missé) não é este que serve de inspiração: Na música não. Esse revivalismo e esses elementos do passado são invocados porque também o fazemos no nosso quotidiano. Por isso mesmo, essas referências estão também presentes na nossa linguagem e na forma como comunicamos, sem que tenham de estar forçosamente ligadas à música, ou mesmo ao processo criativo.” É talvez esse sentido musical tão cuidadoso de que falávamos, que os leva a encontrar uma inspiração muito própria: Esta, na maior parte das vezes, é puramente sónica.
Com uma breve passagem pelo Bandcamp do grupo (sensiblesoccers.bandcamp.com), damos de caras com "four human beings from the rural parts of Portugal, playing a very sensitive soccer with a psychedelic sense". Para além do cariz humorístico que claramente a banda vai expressando, não seria também esta ruralidade parte importante de todo o processo criativo? Mais uma vez, não é bem na música que nos parece que se reflecte mais esse factor da ruralidade (…) Tem uma influência imediata na medida em que todos nós estávamos um pouco cansados da urbanidade. Estamos todos a ficar trintões e precisamos de estar em locais que nos transmitam mais calma e sossego. Em vez de uma sala de ensaio no Centro Comercial Stop, estamos numa casa que também é sala de ensaio e estúdio de gravações, fazendo uma vida algo comunitária nos períodos em que nos encontramos para trabalhar. É fácil de perceber como isso influencia largamente todo o processo.”
Olhando para os inúmeros filmes que a sonoridade dos Sensible Soccers desenha no nosso imaginário, a banda não hesita em falar do cinema como possível instrumento de trabalho. No futuro, estão também uma série de sonhos. Continuará o futebol tão simpaticamente presente? Não seria perfeito terem “todo um estádio a cantar”? Que outros sonhos estão por concretizar? “O nosso estádio de eleição para tocar é o Estádio dos Arcos, onde joga o Rio Ave. Os nossos sonhos são na maior parte eróticos. O que está para vir só Ele sabe. Nós vamos dar concertos onde pudermos e quando pudermos e lançar música da mesma forma e vice-versa.” Mais nada. Dificilmente a glória e os títulos vos irão passar ao lado. À vitória Sensible Soccers, à vitória. 

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