SUGESTÃO: A Naifa: depressão animada, desassossego inflamado e desobediência de coração.


A Naifa é um coração cantante, já todos o sabíamos, mas também uma super-banda que afirma a sua própria identidade no pressuposto mundano de se rever numa portugalidade dedilhada na alma da guitarra. Por mais cardiologia que nos assista a definição d`A Naifa, aqui a matéria será sempre mais intensa e brava do que a simples prescrição do bater de um coração, no meio de tantos outros na canção popular nacional. Sim, popular.
Depois do assombro fatalista do desaparecimento de um dos seus mentores e ditoso homem a quem deve muito a nova canção portuguesa, João Aguardela (1969 – 2009), A Naifa voltou ao exercício de fazer bater a máquina, de dar voz às muitas gavetas que pediam instrumentos para daí sair uma matéria-prima consistente, equipendente e fresca.
não se deitam comigo corações obedientes é o mais recente motivo para juntar aos já muitos existentes para falar d'A Naifa e daquele que pode bem ser o disco do ano na muita matéria produzida em terras de Camões ao longo deste 2012. A família está reunida desde o final do passado ano, fazendo lembrar uma qualquer cena épica de reunião de guerreiros que, pela genialidade colectiva, acrescentam ao património próprio o dom de saber fazer em conjunto, coisa muito rara por estas calhas artísticas.
Conhecendo uma edição oficial já para o final deste mês de Março, o disco que bebe o seu título a uma referência literária de António Lobo Antunes, nasce de uma série de parcerias lançadas ao berço próximo de cabeças pensantes da família Naifa, mas com a particularidade desta vez terem sido escolhidas letras produzidas apenas por mulheres. Pormenores num poço de outros pormenores quanto é o requinte desta música confeccionada sob os mais requintados alicerces que à canção de palavras se pode exigir.
O regresso em 2012 é sorridente quanto ao amanhã e puro no olhar sobre o já longo passado de oito anos do projecto.Nesta negação-título de convite à cama dos A Naifa há outros convites bem mais apelativos quanto o da concentração na evolução da voz de Mitó Soares, no toque baixo sumptuoso de Sandra Baptista e das habituais remessas de arrepios de espinha pela guitarra Varatojo. O disco pede viagens e gente de coração grande, ou o suficientemente grande para ser desobediente.
Texto escrito por: Tiago Ribeiro

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