REVIEW: Portico Quartet - Portico Quartet

O que têm em comum os Portico Quartet e o César Peixoto? Pois bem, a polivalência. Se com o César Peixoto a piada fácil do "é polivalente, joga mal em todo lado" até lhe assenta bem, já com os Portico Quartet não é bem assim. Ao terceiro longa-duração, chegados de Londres e tendo dado este mês um concerto no CCB, a banda não perde tempo em tirar a máscara e revelar que é realmente mais do que uma mera praticante de um jazz a meio caminho da electrónica - ou vice-versa. A verdade é mesmo essa: não há um único sentido musical ao longo de Portico Quartet. Seja a lateral ou a "dez", os Portico Quartet provam que têm pulmão para ir espalhando muita magia. E deixam o pobre César a aquecer o banco.
Mesmo que se torne fácil apontar o jazz e a electrónica como o papá e mamã do projecto, deixar os Portico Quartet de mão dada com os progenitores parece pouco para uma certa rebeldia que o quarteto vai sempre tentando explorar. Acima de tudo, aquilo que fazem é traçar o caminho rumo à sua própria emancipação, livrando-se aos poucos da timidez, arriscando e perdendo as estribeiras, atacando uma multiplicidade de famílias musicais sem medo e quase sempre na perfeição. Se os temas de Portico Quartet não reúnem entre si um conceito evidente que os aproxime, e mesmo que possam parecer pouco coesos em termos de sonoridade, por algum motivo o álbum não tende a parecer-se como um conjunto de temas em separado. Aquilo que os une pela raiz e, se calhar, aquele que é o maior segredo de Portico Quartet, está na forma minuciosa e delicada com que cada elemento é acrescentado a cada canção. Se o jazz é por vezes considerado como música para gente grande, percebemos que os Portico Quartet partilham muito dessa sabedoria e experiência que só se ganha com a idade. 
A primeira canção do álbum, Window Seat, não deve ser só encarada como uma canção de introdução. É, na verdade, o tema que nos transporta para de baixo deste oceano aqui criado, avisando-nos também para o lado mais experimental, cinematográfico e, novamente, polivalente de Portico Quartet. Ruins e Spinner vivem dessa simplicidade de processos, onde o saxofone - aqui sim bem jazzy - conduz ambos os temas até a uma genialidade impressionante. Outros temas, mesmo que menos directos como são os oito minutos de Rubidium ou a mais Four Tet, Lacker Boo, tornam-se fáceis de afeiçoar na sua fragilidade. Prova disso é Steepless, a única não-instrumental de todo o álbum, torna-se num portentoso monumento musical. A voz é da sueca Cornelia Dahlgren e aproxima-se de Lykke Li, conseguindo ainda adicionar mais doçura, num dos melhores temas do álbum. 
City of Glass deixa todas as facetas bem trabalhadas e arrumadas, provando como os Portico Quartet, tendo pegado numa ideia musical que por si só consegue seduzir muita gente, conseguiram levá-la até outro nível, deixando a sua marca em termos de sonoridade. Independentemente de quem ainda estiver para vir, os Portico Quartet são a primeira certeza no onze inicial de muitas das listas que 2012 ainda irá ver nascer.
9/10

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