A MINHA BANDA FAVORITA: Os Power Rangers brancos do hip-hop português…Mind da Gap (por Diogo Lopes)

Comparo rappers com personagens que dão cambalhotas no ar com fatos de lycra justos… já estou a postos para a tareia que vou receber… Ou será que não? A verdade é que muito provavelmente “sairei ileso” deste texto, porque os Mind da Gap não são os vossos rappers de shotgun às costas do costume, vão para lá dos queixumes da “vida da street”, e falam connosco de igual para igual, são autênticos mestres de cerimónia dos momentos do dia-a-dia, com tudo de bom e mau que esses mesmos dias possam ter.
Com o início típico que todos os rappers têm, gravador de faixas incluído, o primeiro EP destes meninos já mostrava potencial, com beats simples e letras fortes (não agressivas), com aquele som de gravação fajuta que caracteriza o hip-hop original e com um sotaque do norte inconfundível. Uns tempos depois... Bang! Surpresa! Outro EP mas totalmente em inglês, enviando-os de cabeça contra todos os outros rappers da altura que em dez músicas faziam vinte a puxar pelo hip-hop “tuga” original. Seria este o fim prematuro? Népia (bem ao estilo da street), seria uma catapulta para a inovação, principalmente porque o contacto com outras bandas como os Blind Zero, deu-lhes mais umas migalhinhas para juntarem ao seu estilo já fora do vulgar.
Voltando à analogia “powerrangeriana”, os MDG tornaram-se em “Megazords” (ou robot grande que destruía cidades inteiras quando ironicamente as estava a salvar), ao lançarem o Sem Cerimónias, álbum que para mim mudou a maneira de fazer hip-hop em Portugal, refrescando-o com novas batidas, mais complexas, que batiam mais fundo, sempre com as letras que tão depressa tem faziam por o volume no máximo, num quarto às escura, a pensar em tudo (O Pensamento é a Minha Droga) ou que te revoltavam com o que vias no mundo à tua volta (Nortesul).
A carreira foi crescendo bem como a qualidade dos “altos sons” que nos davam, e que eu recebia como aquelas gomas tipo feijões todas com um sabor diferente, tal e qual como as músicas deles, umas alegres (Bazamos ou Ficamos), outras tristes (Um Recado Para Ti), outras gozonas (Tilhas? São sapatilhas) e outras introspectivas (). Ao longo deste caminho, moldaram a sua carreira, deram uns toques a solo (o Serial e o Presto), voltaram (A Essência em 2010) e podem ter todo o orgulho de dizer que são os poucos, senão os únicos MC’s a transitarem do underground para o mainstream sem escreverem sobre bebedeiras, gajas ou “canhões”, mantendo o mesmo estilo de escrita culto, superior sem ser altivo, carregado de significado e personalidade. Daí a metáfora com o Ranger branco, que, caso não se lembrem, era aquele solitário, diferente dos outros, mas com um toque de rebeldia e classe que fazia todos nós, ainda putos, desejar ser igual a ele. Nós continuamos a desejar, os Mind da Gap já o ultrapassaram.
Texto escrito por: Diogo Lopes

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