A MINHA BANDA FAVORITA: The National, o relato de um amor para toda a vida.

"Qual é a tua banda favorita? Foda-se Afonso, eu não tenho uma banda favorita". É impressionante como sempre apanhei com a mesma resposta parva, a uma pergunta que para mim sempre foi tão fácil de responder. Tudo bem que as pessoas podem ter várias bandas que lhes fizeram começar a tocar guitarra, a usar calça justa, bota de biqueira de aço ou que lhes convenceram a fazer uma tatuagem com um par de versos, mas para mim, tal como só há uma mãe, só há uma banda favorita. 
Olhar para a forma como todos nós aprendemos a gostar de música tem piada e, se formos a ver bem, acaba por espelhar da melhor maneira aquilo que é o nosso percurso desde a criancice pura até a esta fase onde já nos tratam por senhor. Se algumas pessoas se lembram musicalmente "daquela noite ao som do meu Guetta no Loft quando beijei pela primeira vez o Salvador", eu lembro os The National como um lugar comum de uma fase onde, por mais balelas que isto possa soar, me fui encontrando no mundo. Conhecendo e gostando da banda é difícil não se passar a ver o mundo dessa forma mais sentimental, cinzenta e melancólica, ainda que seja essa espécie de catarse que vou tentando encontrar em cada audição, recordando, com muita nostalgia à mistura, as virgindades que fui perdendo de cada vez que descobria uma nova canção. Tentar explicar porque é que eu gosto assim tanto dos The National é como tentar explicar porque gosto dos meus amigos ou da minha namorada. Como é que se explica isso?
A verdade é que com o tempo fui arrumando a casa em termos de álbuns e EP's, mas nunca quis nem consegui elaborar um raciocínio muito intelectual em relação à banda. Para mim, tudo começou com Boxer - o melhor e para sempre imbatível álbum da história da Humanidade. Com ele, absolutos épicos como Start a War, Slow Show, Brainy, mas, principalmente, Fake Empire, o relato de um amor para toda a vida: da delicadeza e simplicidade de processos que compõem o piano, à  entrada da voz quente de Matt Berninger, bem como a sua lírica subtilmente voraz, a classe do seu toque de consolo no ombro de cada um de nós, até à entrada do cronómetro acertado à milésima, entenda-se a bateria de Bryan Devendorf e, por fim, o crescendo com a palete indecifrável de instrumentos de sopro, que culmina aquela que é e será para sempre a melhor canção que os The National alguma vez escreveram.
Degraus abaixo na escada que deixa, hoje, os The National no patamar confortável e merecido do mainstream-indie, estão o homónimo The National e o mais sério Sad Songs For Dirty Lovers.  O primeiro mais contido, por momentos até mais country, o segundo é um aviso para o que estaria para vir, com canções quase cruéis como Available ou Lucky You. Seguiu-se Cherry Tree, um EP de luxo que contempla temas aqui já, por muitos, inalcançáveis como About Today ou Cherry Tree e que funcionou claramente como o ponto de viragem na qualidade da composição da banda, tendo aqui passado a trabalhar de forma mais cuidada e bem conseguida, transmitindo quase sempre a melhor das emoções -  fria e dura, mas com uma força inquebrável e estupidamente viciante - que, no fundo, os passou a caracterizar. O passo que Alligator dá é esse mesmo, da raiva de Abel ou de Mr. November às meticulosas Secret Meeting e Baby, We'll Be Fine, chega o primeiro de três álbuns perfeitos (Boxer e High Violet juntam-se neste pódio), que de disco da confirmação em disco da confirmação, foram fazendo a banda superar a pressão, mas sobretudo superar-se a si mesma.
É certo que o resto da história está ainda por contar, mas a parte mais importante já foi escrita. Quero olhar os The National daqui a uns 20 anos e lembrar-me do que deles fui guardando. Desde cantar isto loucamente com os amigos, passando pelos concertos e até as desilusões amorosas. Porque, se formos a ver bem, o que é que de melhor se pode tirar da música? Mais do que a pensarmos, não podemos esquecer-nos de a sentir desta maneira puramente emocional. É esse escape que a banda consegue sempre proporcionar.
E pronto, era impossível chegar ao fim disto e não achar que muito ficou por dizer, mas a verdade é que a relação com uma banda favorita é muito mais do que factual e dificilmente pode ficar assim escrita num texto qualquer. A tua banda favorita deve fazer mudar-te a vida. Ponto final. Felizmente, os The National já o fizeram. 

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