Sempre que me é lançada a pergunta "Qual é a tua banda favorita?" para além de não conseguir responder aos primeiros segundos, nunca consigo dar uma resposta completamente assertiva e maior parte das vezes a resposta é sempre diferente. Não tenho qualquer tipo de relação daquelas super espirituais com uma banda ou artista em concreto, é mais com a música em geral que mantenho esses laços. Às vezes chego a invejar aqueles que sentem essa tal ligação, parece ser tão bom e inspirador, quase religioso. Com isto, os artistas que me vieram à cabeça foram alguns e como para mim é sempre difícil o processo de escolha, recuei ao passado (não muito longínquo, é certo) e confesso que vi passar os Onda Choc, mais tarde os Da Weasel, os Dealema e mais umas outras coisas que não vale a pena referir (sim, estes valeram a pena). Mas as minhas dúvidas não passaram por nenhum destes nomes; entre os devaneios infanto-juvenis cheguei à Feist e a minha decisão tornou-se relativamente mais fácil porque neste momento encontro-me em excitação pré-concerto. É verdade.
Vamos então às apresentações: nasceu nos finais dos anos 70 no Canadá numa família de artistas, um pintor e uma artista plástica que lhe deram o nome de Leslie Feist. Talvez fosse arte a mais lá em casa, pois os seus pais acabam por se divorciar pouco depois da pequena Leslie nascer. Andou de mãos dadas com os avós, acabando por aterrar em Calgary. Foi aqui que se tornou numa pequena estrela, cantando em grandes cerimónias, entre elas "Calgary Winter Olympics", que a cantora guarda com carinho na memória.
Do palco do "Calgary Winter Olympics" para palcos maiores, Leslie numa onda punk junta-se a Placebo (não são esses Placebo, são outros) e mais tarde à sua amiga Peaches (sim, esta é aquela que estão a pensar). A brincar a brincar, vai encontrando o seu lugar, e o seu lugar acabou por ser no mundo indie pop e na Folk. E enquanto se encontrava fez sair o seu primeiro álbum a solo Monarch (Lay Your Jewelled Head Down) que conta com dez temas, entre eles o belíssimo Monarch. Mais tarde, passeia pela Europa ao lado de Gonzales e junta-se, pouco depois, aos Broken Social Scene. Vai fazendo um pouco disto e daquilo, e aproveita para começar um outro projecto, Let it Die, um conjunto de temas fofinhos que entre os demais destaco: Mushaboom, que integra a banda sonora do filme 500 Days of Summer , Secret Heart, Inside and Out e a One Evening, esta em particular faz-me lembrar tempos muito bonitos da minha vida. Let it Die acaba também por trazer coisas bonitas a Leslie, vários prémios entre eles dois Junos Awards em 2004.
E eis que Feist acaba por mudar-se para a mais bela das cidade, Paris, apaixonando-se de imediato pelo sítio, o que fez com que rapidamente ganhasse inspiração para novos projectos. Junta-se aos Kings of Convenience e com eles faz nascer coisas maravilhosas como o tema The Build Up.
Feist há muito que já deixara cair o Leslie e, em singular, começa a afirmar-se como uma verdadeira singer-songwriter. É aqui que está prestes a nascer a verdadeira obra-prima da artista. Em 2006 de regresso a casa, Feist oferece-nos o melhor dos álbuns: The Reminder. 1234, My Moon My Man, a tão espectacular Limit to Your Love, adoptada há pouco tempo por James Blake, e I Feel it All são alguns dos temas do álbum que me fazem/fizeram sentir literalmente tudo. Depois deste grande fenómeno, Feist acaba por integrar mais alguns projectos como The Water do seu companheiro Kevin Drew dos Broken Social Scene, e acaba por colaborar também com os Grizzly Bear e Wilco. Sempre muito activa, em 2010 faz sair um documentário Look at What the Light Did Now que demonstra todo o processo de realização de The Reminder. Por fim, neste último ano que passou, saiu o seu quarto álbum Metals, que não nos deixou ficar mal, com temas como Anti-Pioneer, The Circle Married The Line, A Commotion entre outros. Ainda o estou a conhecer, aos poucos. Mas é caso para dizer que tudo o que Feist faz, é bonito.
Eu...eu sou a Viviana, não canto, não escrevo canções e nunca vivi em Paris (mas gostava). Sou bastante normal, assim como Feist me parece ser. E é por isso que gosto tanto dela, consigo chegar-lhe muito facilmente, dá para tocar-lhe sem qualquer tipo de preconceito por ela ser uma artista famosa. Depois de voltar a ouvir algumas canções, de pesquisar e escrever tudo isto percebi porque é que realmente a escolhi. Ela é mesmo especial para mim, eu tenho 19 anos, ela tem 37 e consigo sentir tudo o que ela quer transmitir-me, as letras dela até podiam ter sido escritas por mim, não que eu tenha tal talento mas eu penso assim, tipo ela. É disto que se tratam as religiões? E como referi lá em cima, há muitas músicas dela que me são particularmente especiais e importantes para às vezes "regressar a casa". Quando as oiço percebo que está tudo igual, como antes, sinto aquela satisfação, aquele conforto de "pronto, está tudo bem". O sentimento é exactamente o mesmo desde o começo. Acaba por ser como uma amiga, que nem precisa de o ser literalmente para ser útil.
Afinal, até acabo por encontrar mais razões para escrever sobre ela do que propriamente apenas a excitação de vê-la pela primeira vez ao vivo. Mas é que está mesmo quase.Daqui a umas horas vai-se dar o encontro. E para quem quiser perceber porque que eu gosto tanto dela, é fácil, basta passar lá pelas dez horas no Coliseu e dizer 'Olá' à minha amiga Feist.
Texto escrtio por: Viviana Martins
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