REVIEW: Jerome Faria - Overlapse

O nome de Jerome Faria não é estranho aqui ao tasco, tendo já por cá andado aquando da edição de 2011 do festival MadeiraDIG. Desta feita tivemos acesso ao mais recente trabalho do artista sonoro português, Overlapse, com as suas 7 faixas e uma duração a rondar os 48 minutos, tem data de lançamento marcada para 19 de mês próximo, pela também nacional Enough Records.
Se em discos anteriores Jerome Faria, também conhecido por NNY, havia já explorado de tudo um pouco no que toca às inevitáveis etiquetas - do glitch ao ambient e do noise à electrónica mais minimalista, chegando a roçar até o rock e o industrial - surge agora com um som de características bem mais vincadas. Há uma afirmação pessoal notável que salta de imediato ao ouvido, um turbilhão estruturado e com uma personalidade bem sua.

Overlapse arranca e arranca-nos da cadeira com um canto ritmado de guitarras distorcidas, estática e feedback. A mesma parede que ao dissipar-se dá lugar a um xilofone e familiares ondas de textura mais grosseira. São estas variações e nuances delicadas que não só vêm definir as diferentes faixas, mas também o próprio disco. Em momento algum aqui se atinge a pureza extrema, tudo se mostra limpo ou polido na medida certa, nunca a mais, nunca demais. É quase como se contemplássemos a máquina, forçada a fugir à sua própria e sintetizada perfeição, prestes a tropeçar em si mesma a qualquer momento. Elementos comuns, usados, combinados  e cozinhados de novas formas... não é isto que representa no fundo o "experimental"? Representações disso são tanto "Decay I" e mesmo a final "Release (Conclusion)", dada a inerente melancolia, à desconstrução dum piano que, ao se vir apresentar  no que noutro contexto seria uma forma e estrutura bem convencional,  é deixado para trás com um beijo de martelo pneumático, numa nuvem de pó barulhento. 
Diria até que é este o disco em que Jerome Faria consegue verdadeiramente afirmar-se como ele mesmo. Deixar um álbum vaguear desta forma, dando-lhe espaço e alma própria, não deixando que este acabe ou se perca numa massa monocromática, é algo de quem vem atingir definitivamente a sua maturidade artística, de alguém que sabe o que pretende e até onde quer ir. 

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