REVIEW: Florence and The Machine - Ceremonials


Florence Welch fez-se uma estrela. Daquelas jovens promessas, putos-maravilha, os que vão cantar aos concursos de música, que fazem chorar os júris. O estrelato é seu, meritoriamente. Between two lungs descansou a senhora Welch seu coração, na paz de um sucesso que ainda parece hoje uma criança. 
Paira ainda no ar essa viva inocência tão Lungs. Se quase sempre tendemos a rever os álbuns como viagens, Lungs, com toda a cénica que dele foi brotando, desde os passarinhos às gaiolas, as flores, as cores, a harpa e os delicados vestidos de Florence parecem, ao recuar dois anos, tal qual Eva passeando-se em pleno Jardim do Éden. Lungs não lhe tinha um conceito propriamente tatuado, mas tinha bem à vista a exclusividade e a força de uma identidade capaz de separar mares. E isso, Florence Welch nunca deixou de  fazer – há até uma memorável noite no Alive vivida a um arrepiante histerismo capaz de provar isso mesmo. Num palco de dimensões tão "modestas" – e lembro, antes deste foi uma esgotada Aula Magna – dificilmente verão Florence and The Machine a carburar novamente. 
Ceremonials, atestado há muito de rezas de sucesso, de uma irremediável ansiedade, nunca deixa de dar mais um grito e ainda outro rumo a um patamar emocional cujo destino nunca deixa de ser a busca de mais um custoso crescendo. De um e de outro lado da questão, entre Lungs e Ceremonials, o que se perde em doçura ganha-se em acidez, muita acidez. A abrir, a nostalgia acutilante de Only If For A Night – que parece liricamente querer regressar, de forma algo premonitória, a um passado inatingível – repete-se em Shake It Out ou em Never Let Me Go. Respiramos fundo e calmamente, onde cai um pouco esta bruta atmosfera gospel em Breaking Down ou Lover To Lover – mas ainda assim longe da poderosa delicadeza do passado. Ainda que dentro de tantas “tempestades em copos de água”, é difícil não reconhecer – sempre quis dizer isto – a star quality que a Florence é inata. Os singles What The Water Gave Me ou No Light, No Light são verdadeiros portentos, imediatos hinos de estádio. 
É algo paradoxal a forma como Florence deixa cair uma faceta tão mais amigável – tipo de uma best friend – de bonitos desvarios emocionais, lembre-se Kiss With A Fist, de cariz muito mais pop e claramente mais “fácil” para mostrar uma mulher muito crescida, vivida e que, de inovador, pouco tem. Tudo bem que seria quase impossível pedir a Florence outra revolução como a primeira – se bem que ainda vamos a tempo disso – mas a mesma história não se escreve das vezes. Florence pode até não encarnar nenhuma personagem desta vez, pode até ser mais directa na forma como se expressa, mas perde-se a teatralidade e a magia, perde-se até parte da honestidade, perde-se a piada toda. 
6.0/10

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