RESCALDO/ENTREVISTA: Urban Beat Battle 2011 @ Musicbox / DEAD END

Foi no sábado passado, dia 12 de Novembro, que o Musicbox recebeu a segunda edição do Urban Beat Battle. Desta vez em Lisboa, depois do Cálculo ter vencido a edição anterior na Cidade Invicta, foram 16 os finalistas a disputar o primeiríssimo lugar: Cálculo, M.A.N., Manifesto, Noize, Beathoven, Jonnhy, Lil' P' Beats, Suary, Woner, Putto Richard, Rimer, Kayne, Dezze, Ferro, Metamorphoresis e Dead End. Com uma casa bem composta, perto de 200 pessoas assistiram a mais uma noite cheia de batidas, melodias e samples.
O jurí deste ano era composto por nomes de peso no panorama do hiphop nacional: Mundo e Maze (Dealema), DJ Madkutz e Tekilla. A seu cargo ficaram as difíceis decisões sobre que concorrentes iam passando às fases seguintes. "Foram escolhas difíceis", nas palavras do juri, mas que se compreendem: todos os concorrentes apresentaram propostas coesas e muito interessantes para os seus beats.
As rondas foram avançando até sobrarem os quatro derradeiros finalistas: Dead End, Manifesto, Jonnhy e Beathoven. Numa aguerrida, mas saudável, competição, o Manifesto eliminou o Jonnhy com potentes beats repletos de bounce e energia urbana; mas a grande revelação foi o total domínio do Dead End sobre o Beathoven. Beathoven começou a ronda repetindo "mais do mesmo", com beats gangsta, sujos que roçavam quase sempre o soturno. O Dead End acabou por triunfar sempre com os seus beats de clubbin', cheios de samples variados e variações que enalteciam a alma das suas composições.
Chegados à final, Dead End e Manifesto, disputaram 3 beats cada um. Foi renhido, dada a imensa qualidade de ambos, mas a frescura e inovação dos beats do Dead End, juntamente com um estilo muito próprio, permitiram-lhe a consagração como campeão. Sem dúvidas.
(Fotografia: Raquel Laranjo)

Foi um evento importante para a produção nacional de hiphop, e cheio de boa onda. A repetir, porque Portugal merece conhecer os tesouros que tem.

Segue abaixo a entrevista conseguida em primeira mão ao Dead End.
Edição Limitada: És actualmente o campeão nacional de beatmaking, consagrado no sábado passado no Musicbox. Conta-nos um pouco do teu percurso musical.
Dead End: Sempre ouvi muito hip-hop durante toda a minha vida porque cresci na Amadora e por influências de amigos meus e de toda a malta naquela zona. Ainda tentei escrever umas letras quando tinha 14 anos, mais ou menos, mas vi que não prestava. Achei que para haver mais um a contribuir para a quantidade e não para a qualidade do movimento que não valia a pena. Desisti e decidi ser só ouvinte até que um dia achei que podia fazer algo pelo movimento e participar; e que com trabalho e dedicação o ia conseguir. Achei que os beats eram a minha cena e descobri o Reason há cerca de quatro anos, explorei bem o programa, comprei um teclado MIDI de 25 teclas com 8 pads e um prato com ligação USB, a partir daí foi sempre a trabalhar com muita paixão e dedicação.
Edição Limitada: Qual foi a sensação de ganhar a edição desde ano do Urban Beat Battle?
Dead End: A sensação de ganhar o Urban Beat Battle é única, porque vêm Beatmakers de todos os pontos do país tentar ganhar a competição, que apesar de ser uma festa e de a malta se dar toda bem, não deixa de ser uma Battle e os 16 finalistas estão ali para ganhar e vêm muito bem preparados. Foi a minha primeira experiência ao vivo e é uma sensação de liberdade e de prazer incrível poderes mostrar ao público aquilo que tu tanto trabalhaste no teu quarto. O que mais me espantou foi a adesão do público. É absolutamente fascinante veres que as pessoas gostam da tua música.
Edição Limitada: Como vês a situação da produção nacional de beats?
Dead End: Acho que o Urban Beat Battle deste ano responde à pergunta. Há cada vez mais produtores em Portugal e há mesmo muita qualidade neste país, se virem os videos da Red Bull Big Tune National Competition, que é o campeonato de produtores nos Estados Unidos e virem as nossas prestações verão que estamos completamente ao nível deles. Em Portugal estamos cada vez melhores e acho que um dia iremos ter bastante projecção internacional.
Edição Limitada: Sem revelares os teus segredos, conta-nos um pouco do teu processo criativo. Quais os critérios quando fazes um beat?
Dead End: Primeiro ouço muita música para poder samplar, acho que tudo na minha construção musical vem do sampling. Normalmente uso sempre músicas antigas, sejam músicas de sucesso ou não. Corto o som e fico horas no Reason a tentar várias combinações. Depois de ter vários grupos de combinações feitas começo a trabalhar nos drums, normalmente crio sempre duas paletes diferentes para ter um beat bastante diversificado. Depois disto complemento o beat com basslines e/ou sintetizadores porque adoro a agressividade electrónica. O segredo dos meus beats, que não é segredo nenhum, são as variações, sejam de batimento de sample, de velocidade da batida ou da mudança radical do que está a ser ouvido. Posso dizer que estou a trabalhar para ter uma identidade e um estilo próprio. E estou a conseguir porque acho que estou a atingir um resultado diferente do que se ouve.
Edição Limitada: Quais os planos para o futuro?
Dead End: Neste momento estou a trabalhar no meu álbum que espero que saia para o ano que vem completamente gratuito. Vou continuar a trabalhar no álbum do Smog que é um grande amigo e um excelente poeta. Muito brevemente vou começar a preparar as cenas com o Reis para poder gravar a faixa com o Mundo e com o Maze que são dois ídolos para mim e vai ser uma grande honra produzir para eles.

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