O DIABO ESTÁ NOS DETALHES, por Bruno Pereira

O que seria da música do demónio sem uma imagem igualmente vistosa, a condizer, capaz de fazer o Grande Bode soltar um aceno de aprovação, inchado de orgulho? E sim, neste caso refiro-me especificamente ao black metal e à sua aura misteriosa e teatral fomentada por assassinatos, suicídios e incêndios. A coisa não era nova, todo o rock, e por consequência o metal, viveu do teatro, do exagero. Da performance. Mas só no black metal se viu o combo: homens a correr na floresta, vestidos de preto, corpse-paint. Homens adultos, claro. Há um ponto que quando ultrapassado transforma o estranho e o bizarro em parvoíce pura e o black metal passou esse ponto várias vezes. Não vou falar dos vídeos de Immortal nem da pose fotográfica de Rob Darken nem de aquele vídeo de Hecate Enthroned...
Não, meus senhores. Vou falar antes disto:

O responsável por essa pérola, o homem mascarado a fazer não-se-sabe-muito-bem-o-quê pela floresta chama-se Johan Lahger (mais conhecido como Shamaatae) e é o único membro do projecto Arckanum. Formado em 1993, Arckanum pode ser visto como uma resposta sueca a Varg Vikernes, da vizinha Noruega. Em 1995, enquanto os noruegueses andavam ocupados a brincar com o fogo, Shamaatae gravava o seu disco de estreia "Fran Marder" de onde foi retirado essa "Gava Fran Trulen". Entretanto já lançou mais meia dúzia de discos, uns melhores que outros - recomendo o fabuloso ÞÞÞÞÞÞÞÞÞÞÞ, de 2009 - todos em volta de conceitos esotéricos e vertentes obscuras do satanismo. Se o Grande Bode aprova? Claro que aprova. Se o Grande Bode precisa de vídeos como "Gava Fran Trulen"? Sim e não. Já que vídeos e imagens como as acima citadas só serviram como arma para quem quer descredibilizar a cena e o género em si, isso parece-me óbvio.
Entretanto, 15 anos depois, a importância da cena black metal escandinava tornou-se mais pequena e a criatividade mudou-se para sítios improváveis. Vocês sabem, a América do Norte e França. E o que era antes uma cena musical violenta e controversa transformou-se numa cena alinhada, interventiva e ...*gasp* positiva. Vejamos por exemplo os Wolves in the Throne Room, uma das melhores e mais influentes bandas do underground, pelo menos desde 2007. Ecologia é com eles, poupar recursos, criticar (abertamente,muito abertamente) quem se "porta mal" num concerto...Escrevem sobre uma liberdade espiritual e uma ligação com a natureza duma forma bem diferente de Varg e de toda a segunda vaga de black metal.
Se o Grande Bode aprovaria esta volta de não-sei-quantos-graus que o metal mais negro sofreu nesta última década? Não sei, não faço ideia. Mas fazer o inesperado e forçar uma ruptura com o que é banal e está estabelecido, não é isso que se exige da música do demónio?

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