O que seria da música do demónio sem uma imagem igualmente vistosa, a
condizer, capaz de fazer o Grande Bode soltar um aceno de aprovação,
inchado de orgulho? E sim, neste caso refiro-me especificamente ao black
metal e à sua aura misteriosa e teatral fomentada por assassinatos,
suicídios e incêndios. A coisa não era nova, todo o rock, e por
consequência o metal, viveu do teatro, do exagero. Da performance. Mas
só no black metal se viu o combo: homens a correr na floresta, vestidos
de preto, corpse-paint. Homens adultos, claro. Há um ponto que quando
ultrapassado transforma o estranho e o bizarro em parvoíce pura e o
black metal passou esse ponto várias vezes. Não vou falar dos vídeos de
Immortal nem da pose fotográfica de Rob Darken nem de aquele vídeo de
Hecate Enthroned...
Não, meus senhores. Vou falar antes disto:
Não, meus senhores. Vou falar antes disto:
O responsável por essa pérola, o homem mascarado a fazer
não-se-sabe-muito-bem-o-quê pela floresta chama-se Johan Lahger (mais
conhecido como Shamaatae) e é o único membro do projecto Arckanum.
Formado em 1993, Arckanum pode ser visto como uma resposta sueca a Varg
Vikernes, da vizinha Noruega. Em 1995, enquanto os noruegueses andavam
ocupados a brincar com o fogo, Shamaatae gravava o seu disco de estreia
"Fran Marder" de onde foi retirado essa "Gava Fran Trulen". Entretanto
já lançou mais meia dúzia de discos, uns melhores que outros - recomendo
o fabuloso ÞÞÞÞÞÞÞÞÞÞÞ, de 2009 - todos em volta de conceitos
esotéricos e vertentes obscuras do satanismo. Se o Grande Bode aprova?
Claro que aprova. Se o Grande Bode precisa de vídeos como "Gava Fran
Trulen"? Sim e não. Já que vídeos e imagens como as acima citadas só
serviram como arma para quem quer descredibilizar a cena e o género em
si, isso parece-me óbvio.
Entretanto, 15 anos depois, a importância da cena black metal
escandinava tornou-se mais pequena e a criatividade mudou-se para sítios
improváveis. Vocês sabem, a América do Norte e França. E o que era
antes uma cena musical violenta e controversa transformou-se numa cena
alinhada, interventiva e ...*gasp* positiva. Vejamos por exemplo os
Wolves in the Throne Room, uma das melhores e mais influentes bandas do
underground, pelo menos desde 2007. Ecologia é com eles, poupar
recursos, criticar (abertamente,muito abertamente) quem se "porta mal"
num concerto...Escrevem sobre uma liberdade espiritual e uma ligação com
a natureza duma forma bem diferente de Varg e de toda a segunda vaga de
black metal.
Se o Grande Bode aprovaria esta volta de
não-sei-quantos-graus que o metal mais negro sofreu nesta última década?
Não sei, não faço ideia. Mas fazer o inesperado e forçar uma ruptura
com o que é banal e está estabelecido, não é isso que se exige da música
do demónio?
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