REVIEW: Battles - Gloss Drop

Quando nos apanhamos com um refrão de mais um qualquer hit de David Guetta na cabeça sem saber bem como já o dominamos na perfeição tanto melódica como liricamente, sendo que aí entra em jogo aquele punhado de palavras – sexy, hot, body, party, beaches/bitches, girl, night, party (sim, outra vez) – que constrói um universo, na verdade, pouco vasto, mas extremamente decisivo na hora de nos fazer perceber que chegámos a um sítio: o Verão. Esse lugar onde aterramos naquele dia em que acordamos ao meio-dia (ou às oito e meia ainda por força do hábito que nos acompanhou durante um ano académico), o mundo inteiro parece subitamente um lugar mais bonito, sem qualquer tipo de dor existencial. Esse é o dia em que, por sorte, ouvimos Ice Cream (o primeiro single saído de Gloss Drop) e choramos de felicidade. É também aí que ganhamos um novo hit de Verão para as horas em que os beats de Guetta já cansarem.
Ice Cream, um espécime que não cora ao lado de uns Vampire Weekend, vem precedido da potente Africastle, a abrir o álbum, que por coincidência ou não lá tem a palavra África, sinónimo de calor e de pujança (pujança?), que a acompanham numa consistência quase atípica de alguns experimentalismos mais puros, mais hardcore que presenciávamos em Mirrored. Em 2007, o primeiro passo dos Battles era dado com a maior das firmezas, capaz de os marcar tanto ao ponto de fechar Mirrored numa caixinha de surpresas: sonoridade fresquinha, divertida, verde, quase inóspita, potente, etc., etc.
Gloss Drop chegaria talvez amputado desse factor surpresa mas passados quatro anos e amputado que o grupo realmente estava de um dos seus elementos (os Battles são agora um trio) seria a priori curioso saber como o enredo se iria fazer ver musicalmente. O magistral triângulo que fecha o primeiro quarto de hora de audição é completo com Futura – seis minutos de êxtase absolutamente total. Uma imensidão de prazer.
Como um seixo que começa uma avalanche, tudo o resto vem porque há desejos que levam a vícios. Há uma bateria a ser violentada, há teclados chicoteados, há uma heterogeneidade ainda maior que em Mirrored, esta que, naturalmente, vem de mão dada com um conjunto de convidados talentosos – a boa vibe de Matias Aguayo, a agressividade rapper de Yamantaka Eye em Sundome, entre outros – Gloss Drop é um arco-íris. Um imaginário inimaginável. Um Verão inteiro pela frente. 
8.5/10

0 comments:

    Enviar um comentário