Quero imaginar o mundo a desabar.
Quero imaginar a chuva a esbater-se sobre mim, os tornados a brincar entre si.
Quero imaginar os trovões que explodem quando só a música se faz ouvir mais
alto. Quero imaginar a desordem, o asfalto.
O chão treme, os prédios entram
pelo subsolo como se fossem apanhar o metro. Ouço o álbum O, de Damien Rice.
Começaria por ser Delicate a minha última estadia no planeta. Não me canso de
cair, a água sobe e alcança a altura do meu peito. Recordo, I Remember acompanha-me. Lembro os sorrisos forçados, as palavras perdidas, os abraços não
dados e todas as despedidas. “Volcano” junta-se à destruição, mas faz-me
sorrir, faz-me querer ser destruído. E nada é em vão. A natureza cede, a neve
está cada vez mais fria. Cannonball toca como que a dar-me a mão. As músicas
dão a mão. Eu agarro porque as quero ouvir, porque vou parar e estagnar. Vou
ser um nada, mas irei viver. Não num planeta qualquer, este já ninguém quer.
Irei nascer numa música e, aí, o mundo só acabará se eu deixar de tocar, “and
so it is”…
Texto por Dário Alexandre
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