“Alvorada, canta o galo” e cantam também os Diabo na Cruz no verso que dá início a esta
bela história sobre a nossa terra. Desde
2009 que para além da Portuguesa,
ganhámos com Virou!, um conjunto de hinos que deram vontade
de cantar ainda mais alto. Quer nas mais alcoólicas semanas académicas onde acabei embrulhado no
moche, quer no mais sóbrio Med ou na doca de Faro perante uma multidão de campónios
mais ou menos incrédulos, sem saber bem o que estavam a ver, de todas as vezes que vi os Diabo na Cruz,
sei que saí de lá mais do que satisfeito mas, para além disso, tenho a certeza
que não fui o único. Por nenhuma das vezes, nunca deixou a plateia de
cantar efusivamente o “ai é tão lindo, ai é tão lindo” de Tão Lindo, de assobiar em Bom
Tempo ou de acompanhar o elástico jogo de pernas de Jorge Cruz.
Tudo
isto para provar que os Diabo na Cruz cantam para todos e não é por terem uma
sonoridade mais ou menos acessível que o conseguem. É porque passam uma mensagem
com que todos, da avó Joaquina de 85 anos a um jovem como
eu, nos identificamos e gostamos. Essa mensagem respira Portugal.
A fórmula
dos Diabo na Cruz é mais ou menos essa. Em Roque
Popular, mantém a sua essência. Bomba-Canção
é, de facto, um “canto artilhado” que dificilmente podia abrir melhor as
hostes. Oferecendo uma energia e potência em quantidades nunca antes oferecidas
pelos Diabo, é daqueles temas que só resta “sentir”. Poucas canções em 2012 terão este músculo.
Baile na Eira e Sete Preces regressam em parte à
ruralidade e ao lado mais tradicional dos Diabo e que de novo pouco tem. Tratam-se de dois shots de pouco mais de dois minutos que começam
a carregar a banda rumo ao desejado sentimento: os Diabo fizeram-no de novo. Quer com uma lírica cheia de personalidade e identidade, quer através dos riffs
assanhados, quer através da “locomotiva” que nunca deixa de carburar pelas mãos
de João Pinheiro, no seu todo, volta a estar lá tudo.
Destaque ainda para Luzia e para Fronteira que exploram a faceta mais baladeira da banda, aqui totalmente guiadas pela poesia de Jorge Cruz com uma sonoridade a lembrar uns Fleet Foxes. Em Fronteira, vai-se contando a história deste país, olhando para o
Portugal emigrante. É esta portugalidade que outros autores como um Zeca Afonso ou até um Quim Barreiros mostram nos seus temas e que de facto lhes atribui um carácter singular. É essa portugalidade cantada que volta a ser, em Roque Popular, o mais cativante em relação aos Diabo na Cruz. O Portugal rural, o Portugal pimba, o Portugal das feiras, o Portugal envelhecido e triste mas com uma força de espírito deste tamanho.
O fado português devia ser este.
8.5/10
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