REVIEW: Porcelain Raft - Strange Weekend

Perceber a forma como cada um de nós observa a música pode ser um exercício interessante. Para alguns só a sonoridade importa, para outros a lírica ou somente um pormenor qualquer com a bateria ou a guitarra. Há ainda quem procure um sentimento em especial, se a música te faz deprimir, rir, saltar ou dançar. Se juntarmos a isso o que está na moda, aquilo que são as tendências – há quem lhes preste mais ou menos atenção – tudo se baralha ainda mais. Depende de tudo, como é óbvio. Porcelain Raft está também condicionado, como não podia deixar de ser, por esta visão caleidoscópica da música. 
O também caleidoscópico Strange Weekend é o primeiro disco de longa-duração depois de três EP’s que foram, durante o ano passado, sendo lançados no bandcamp de Mauro Remiddi. O nome desvenda quase tudo. Remiddi é um italiano a viver em Londres. Nascido em 1972, Remiddi torna-se num caso especial, pois pertence a uma geração que sempre se colou a uma sonoridade bem mais rock ou, pelo menos, algo distante do som do seu projecto. Porcelain Raft é o trabalho de um homem só, sendo o próprio a compor todo o interior do projecto, dando vida à voz, à guitarra, aos teclados e aos loops. Remiddi parece, sem dúvida, só agora ter descoberto esta sua vontade de fazer música. 
Explorando o caminho sobre o qual Porcelain Raft decidiu edificar a sua obra, a primeira pedra de todo este edifício dificilmente deixa de ser uma dream pop sempre muito colorida e reluzente, ora mais tímida ora mais extrovertida. É, ao mesmo tempo, impossível não notar a voz andrógina de Remiddi, o que nos lança imediatamente boas memórias como as que Victoria Legrand (Beach House) nos proporcionou no passado. Essa particularidade – e as particularidades são quase sempre positivas – não se vê acompanhada de outras ao longo de Strange Weekend. Por mais docinho que seja o rebuçado da bedroom pop, este nem sempre chega para que tudo soe assim tão mágico e relaxante. Apesar de serem estes os ingredientes fundamentais desta mistura que Remiddi tenta reproduzir, sentimos que falta qualquer coisa que nos deixe com alguma água na boca. 
Unless You Speak From Your Heart funciona de forma quase antagónica em relação a muitos dos restantes temas, ao respirar o ar inovador e praticamente único ao longo do álbum. Strange Weekend pode ser visto de várias perspectivas, mas por mais que tentemos encontrar o que torna este fim-de-semana tão especial, a verdade é que nenhum dos argumentos com que Remiddi nos tenta iluminar, parecem verdadeiramente capazes de nos convencer. Desde sentimento dream-pop que transporta Porcelain Raft ao colo, passando pela lírica, até a uma mescla de sentimentos que se tornam camadas supérfluas de um universo oco, sem essência para lhe dar a mão até ao fim. Mesmo que as nossas imaginações sejam despertadas e haja realmente um clique que nos acorda, Strange Weekend deixa-nos a perguntar onde é que já vi este filme? E quando assim é, quase sempre saímos antes do fim.
6.5/10

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