REVIEW: Observer Drift - Corridors

De que fazer música hoje em dia e mostrá-la ao mundo é mais fácil, já ninguém parece ter dúvidas. A verdade é que, como consequência disso, assistimos a uma tendência que nos guia num sentido onde todos somos autodidactas, onde todos queremos criar algo, onde queremos ganhar o nosso espaço. E isso é muito bom. Collin Ward é um desses bons exemplos. Pelo nome de Observer Drift, a música de Ward vive aos braços de sonhos e memórias, respirando uma atmosfera nostálgica profundamente embalada pela sonoridade dream pop. Flutuando no conforto destes lençois, Corridors vai tecendo uma malha mais ou menos uniforme, nunca perdendo a essência lo-fi que a caracteriza e que, de forma bastante directa, acaba por nos fazer receber o calor deste corpo.
Todo este calor, percebemo-lo facilmente, surge do talento de um jovem que se parece como muitos de nós: com os seus sonhos, aspirações, vontades e sobretudo o desejo de se querer expressar e ser ouvido. Ward produz toda a sua música fechado no seu quarto, partindo dali por caminhos que só a sua imaginação pode desenhar. É, assim, exactamente pelo carácter imaginativo e contemplativo do quadro que fica pintado em Corridors, que o ouvinte vai avançando, passo a passo, para finalmente dar a mão a um clima etéreo que realmente se respira.
O tema-título Corridors faz-nos embarcar numa viagem com claros pontos de referência em artistas que de forma algo paralela a Observer Drift, caminham na mesma direcção. Youth Lagoon ou King Krule são lembranças sonoras que nos vêm à memória. Todo um sentimento muito synth-pop, onde a verdadeiras pulsões do tema emanam dos teclados e de um beat com muito volume, que atribui um carácter, se quisermos, de alguma acidez que adensa todo o shoegazing aqui praticado. Se cada uma das canções funciona como uma memória do passado de Ward, pois bem, esta terá sido vivida no passado com alguma intensidade. É isso que acaba essencialmente por transmitir.
Warm Waves, segundo tema do álbum do jovem americano oriundo de Bloomington, Minnesota, veste uma tonalidade mais primaveril e uma pop pujante que acaba por roçar naquilo que uns The Pains Of Being Pure Of Heart ou uns Beach Fossils têm vindo a fazer e que Ward transporta para um universo pleno de uma certa inocência infantil.
Tal como este acaba por afirmar no seu bandcamp, procurou recorrer aos álbums de fotografias que por casa tinha expalhados, encontrando assim imagens para desenhar com os seus instrumentos. A fotografia de Backwards adquire uma sobriedade, um controlo excessivo, arrastando-se lentamente, nunca atingindo verdadeiramente um lugar de "sonhos". Home Video vive de um quase-instrumental, uma lírica de dois versos que soa a uma ideia inacabada e que não encontra realmente a dimensão que outros temas como Letters to Myself ou Use Stars acabam por oferecer.
Com esta primeira aventura de Observer Drift, podemos continuar a acreditar que estes "sons de quarto fechado" continuam a fazer sentido e a inovarem o seu espírito. Corridors vale sobretudo pela frescura juvenil, pela sonoridade muito própria que Ward lhe impõe, um imaginário que vale a viagem. 
7/10

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