Sérgio Godinho - Mútuo Consentimento // VÍDEO: O Acesso Bloqueado

Em Portugal, reza o uso de ser das almas que por aqui vagueiam de que o culto do morto é porta de reconhecimento e da enigmática empatia com alguém. Muito provavelmente este é um dos homens em que a morte se quer longe, mas talvez ela, e que bem sabe a metáfora, será o bilhete para um país atento ao seu mais ilustre cantor, escritor, poeta sem cachimbo e homem da cultura social atenta e, sempre que possível, interventiva. Sérgio Godinho. 
Depois de uma pausa de cinco anos, e com um bilhete de identidade que marca mais de trinta discos, parcerias com velhos amigos das andanças, roteiros com paragens esgotadas em algumas das maiores salas do continente e ilhas – mas não só -, depois de ter feito dos livros o seu filho mais novo, Sérgio regressa aos ouvidos do país que o segue atento e imaculado para mostrar, sem fórmulas, adereços ou outras etiquetas óbvias do batido mundo POP, que a paz dos mais de quarenta anos de carreira se escrevem – sim, porque a palavra em Godinho é a chave da sua descodificação – em “Mútuo Consentimento”, título canção e disco que assinala, este ano, o sempre bem-vindo segundo dia da sua vida. 
São onze canções que, apesar de contrariarem os hábitos da cultura MP3, se querem juntas em formato disco e apelando, instintivamente, a uma escuta sequencial. As canções poderiam ter sido escritas há quinze anos? Sim, e qual o problema disso? Apesar de, muito provavelmente, alguns dos seus amigos colaboradores –“ parceiros de armas”, como os gosta de catalogar Godinho – nem fazerem ideia de que a música seria parte da sua vida. Francisca Cortesão, David Santos (aka Noiserv), Hélder Gonçalves (Clã) e Bernardo Sassetti, este último que colabora no mais deslocado e, possivelmente, apaixonante tema deste disco , Em Dias Consecutivos, foram o sangue novo chamado a marcar presença na já longa aula de vida de Sérgio Godinho. 
Não é que fossem necessárias, mas há hoje – ainda – mais razões para fazer de Sérgio Godinho um compositor contemporâneo, um cantor sem pretensões e um poeta a full-time. 
Acesso Bloqueado é o primeiro cartão-de-visita deste novo físico.
texto escrito por Tiago Ribeiro

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