Estás no teu quarto. Ouves isto ou aquilo, escreves um ou outro texto. Perdes-te pelo facebook em comentários, likes e posts. Vais à escola, estás com os amigos, bebes um café de manhã, uma cerveja à tarde, fumas um cigarro. Bons dias. Maus dias. Preocupas-te com a escola, mas às vezes estás-te nas tintas. Continuas a acreditar que o universo é um lugar bonito. Estás no teu quarto outra vez.
O teu quarto é a tua cara, o teu retiro, a tua toca, a incubadora da tua vida. Se valorizas o teu quarto fazes muito bem. Trevor Powers fê-lo durante toda a vida. E The Year Of Hibernation soa como algo muito parecido a nós. Somos assim tão iguais? Provavelmente sim. Youth Lagoon é uma barreira tão transparente para Trevor Powers como uma qualquer outra coisa que nos determina da mesma maneira que o nosso nome. Como a bola para o Cristiano Ronaldo.
Trevor Powers passou a vida a debater-se com problemas de ansiedade e pode ser isso que ainda mais nos empurra com duas mãos cheias de uma força honesta que absorvemos e compenetramos como algo que já cá estivesse. É isso. Youth Lagoon passou a vida hibernado na vida que é a nossa. Mas vida, só a foi realmente, quando a reconheceu na escrita, no papel, no piano, na guitarra, quando a reconheceu na multifacetada e infinita essência da imaginação. Acabaste de ganhar expressão para quando uma espécie de síndrome de Asperger te ataca e não sabes como te pôr no papel. Ou quando estás no teu quarto e pensas. Fazes uma viagem desconexa: tanto pensas num grande amor como logo depois pensas que queres é comer uma pizza. O pensamento é frágil, sem ordem para o sonho, para a memória ou para o teu maior desejo. The Year Of Hibernation leva-te lá, desde o teu quarto até onde quiseres estar.
Cada um é como cada qual e para Youth Lagoon pouco resta senão tentar. Lembra-nos a dream pop de uns Beach House, um universo paralelo a Teen Dream, com a intensidade lírica e vocal de uns Antlers em Hospice – a tensão daquele cenário de quarto de hospital leva-nos como em The Year Of Hibernation a outro lugar, sem que saiamos do sítio. Estás no teu quarto. Ouves isto e já nada acontece como era suposto.
9.0/10
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