REVIEW: Luke Abbott - Holkham Drones

Desde cedo que nutro um desinteresse generalizado por música electrónica. Há projectos que me interessam e que tento acompanhar, mas não costumo sair da minha área de conforto para explorar novos artistas. Recentemente, por intermédio duma compilação, deparei-me com Luke Abbott. Electrónica, portanto. Geralmente consigo identificar com relativa facilidade quais os elementos que me agradam (ou não) numa música. Quando confrontado com o trabalho de Abbott, senti-me intrigado, porém não consegui racionalizar o meu interesse. Motivo o suficiente para querer investigar melhor o seu trabalho.


Holkham Drones (2010, Border Community) marca o ponto de partida. É um álbum pontuado de referências habilmente reinterpretadas numa sonoridade muito própria. É fácil identificar os padrões sonoros explorados pelos pioneiros Kraftwerk, embora aqui sejam entregues duma forma mais dispersa e menos constrangida, sem as formalidades mecânicas tão favorecidas pelos percursores alemães. Ritmos maquinais fortemente pontuados estabelecem o mote. Melodias orgânicas expandem e contraem sobre si, criando ligeiras incursões psicadélicas, não muito distantes do krautrock. A estética é marcadamente lo-fi. Analógico é rei .
Abbott divide-se entre o contemplativo e o activo. Nos seus momentos mais serenos é patente um forte sentido melancólico, que nos remete para o trabalho dos Boards Of Canada. No entanto, é nos seus temas mais dançáveis que Holkham Drones se destaca. O contínuo escalar de tensão convida ao movimento, conduzido por arpejos hipnóticos que preenchem e acabam por saturar o espaço. É este sentido de dinâmica o grande catalizador e trunfo do álbum.

É refrescante saber que nestes dias de saturação musical ainda há espaço para surpresas. Funcionam como simpáticos lembretes que nos relembram que os nossos gostos podem não ser tão estanques quanto pensamos.


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