REVIEW: Feist - Metals

Há poucas palavras que signifiquem coisas tão extraordinárias como Leslie Feist. Mesmo que digamos isto sendo verdadeiros admiradores da senhora e a coloquemos invariavelmente num pedestal supra-humano, Feist ganha pontos por ser classificável em adjectivos bem mais familiares. Aquilo que dela recebemos de cada vez que a ouvimos ou de cada vez que a vemos em palco ou em entrevistas é puro, genuíno e gostamos dela por isso também. Pela inteligência, pela simplicidade, pela sinceridade de uma série de atitudes e gestos que são como os que esperamos de um bom amigo. Resta-nos prestar-lhe respeito e classificá-la num silêncio bem espaçoso para que cada um de nós o encha com as melhores qualidades que lhe conhece.
Para as muitas invejosas – e agora falo que nem uma pita de dez anos – que apontam ao Olimpo onde Feist reina, continua a parecer impossível de lhe tocar tal é a classe com que Feist se continua a fazer passear. Metals é um reforço do estatuto que lhe reconhecemos unanimemente. O primeiro glimpse que partilhámos em Let It Die – ouça-se a inesquecivelmente sedutora One Evening – passou a uma partilha de algo mais em The Reminder porque este é o álbum que, indiscutivelmente, mais desenhou o ADN-Feist não fossem os temas 1234, I Feel It All, My Moon My Man ou ainda Limit To Your Love , comprovar isso como canções de senso comum que ainda são. É, no entanto, pela obra na integra e não pelos seus capítulos em separado, que a compreendemos da melhor maneira. The Reminder tem uma alma muito infantil, sem que seja frágil, são canções feitas de mini-ideias geniais, um lado didático, quase comediante numa pop muito bem arquitetada e personalizada.
Metals não vive da mesma imagem. Comecem por pensá-lo até pela própria capa do álbum. Explicar a um fã desiludido com a mudança de sonoridade de Feist, é como explicar a uma criança que o mano mais velho já não brinca mais, que cresceu e agora gosta é de outras coisas. Não é fácil dizer que Feist está mais madura, mas a música que faz é certamente para mais “crescidos”. Saímos daquele imaginário sem fronteiras para abraçar fronteiras bem mais palpáveis. Aqui há uma folk que segue as suas regras, uma Feist mais próxima de si mesma, de um esforço para ensombrar a voz – fá-lo lindamente em quase todo o álbum mas é impossível largar Anti Pioneer sem aviso prévio.
Feist está mais próxima da comum pretensa de uma singer-song writer, que olha com uma maior atenção à lírica, neste caso muito dedicada à Natureza, a um lado mais aconchegante, pessoal, sombrio e paisagístico, como em Cicadas And Gulls: “The land and the sea/Are distant from me/I’m in the sky”. Ainda assim Metals não é um prato limpo. A Commotion lembra o quão idiota – num bom sentido – Feist pode ser e todo aquele “movement of a lot of humans” como esta chama ao coro que neste tema se monta repentinamente é exemplo. É uma grande canção e sê-lo explica parte da desilusão que alguns possam partilhar desta nova direcção para um preto e branco mais jazzy que How Come You Never Go There já havia adivinhado mas que sobretudo faz de Metals um álbum dinâmico, orquestral e completo nas suas diferentes texturas e paisagens. Independentemente do resto, esta é a parte de Feist que queremos continuar a reconhecer.
8.3/10

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