REVIEW: Girls - Father, Son, Holy Ghost

Identidades, tradições, valores, princípios, convenções – tudo isso é o grau zero da definição de cultura. Jogando com os mesmos conceitos e aplicando-os a um patamar mais estreito da coisa – a música – percebemos o imenso gozo que hoje existe em entrar nesta brincadeira. As bandas que mais ou menos procuram uma identidade, mantendo convenções, quebrando regras, desbravando fronteiras, estilos, modas, preconceitos. O novo, o velho, o bonito, o feio. Há um certo prazer intelectual em toda a população que ouve música pela música para desmascarar álbuns e interpretá-los jogando com todos os dados deste jogo. Father, Son, Holy Ghost parece o ideal para este feroz exercício.
Quando pensamos há dois anos atrás, lembramos que estes senhores vestidos de raparigas sacaram Album, um punhado de música inofensiva, leve, com piada por soar tão inconsciente e naive. Chegava um encosto para se gostar de temas como Lust For Life ou Laura. Baladas sarcásticas sobre amores não correspondidos, sobre dias felizes, sobretudo sobre emoções familiares. Tudo soava fácil, soava honesto e isso é sempre importante.
Quando pensamos no agora, temos Father, Son, Holy Ghost, encaminhado por Broken Dreams Club EP – este que serve, e percebemo-lo de pronto, como uma ponte entre os dois longa duração. A banda parece bastante sincera quando deixa tudo em pratos limpos sobre aquilo que vão sendo as suas aspirações musicais, deixando claro o caminho que querem seguir. Aconteceu isso em Vomit, a primeira amostra de Father, Son, Holy Ghost e logo de seguida comHoney Bunny. Entre as duas há uma imensidão de tempo, de histórias, de culturas que se vêem juntas pelo intelecto de Christopher Owens. Com maior ou menor consciência disso, Owens foi agregando um conjunto de paradigmas musicais muito afastados e diversos, reiterando um novo paradigma, quase inédito, por tudo aquilo que consegue criar. SeHoney Bunny dificilmente podia soar mais Beatles, Vomit é uma epopeia psicadélico-gospeliana, se isto sequer existe, a fazer inquestionavelmente lembrar Pink Floyd. É estranho, mas ouvir tudo isso dá um certo gozo: Die é uma canção que grita “rock’s not dead”, composta por guitarradas daquelas que “já não existem” e Love Life tem, por seu lado, uma postura bem jazzy, é uma canção orelhuda tanto pela percussão como pelos teclados.
Ouvir Father, Son, Holy Ghost – não pondo de parte o restante material dos Girls – é um exercício divertido. A forma como Owens brinca com as sensações é novamente recheada de inocências líricas – como em How Can I Say I Love You. Estas sensações podem ser levadas dessa maneira, mas podem também soar como grandessíssimos clichés.Father, Son, Holy Ghost não consegue soar verdadeiramente a novo, nem se livra das imensas comparações. Não podia por isso tornar-se também ele num álbum cliché? Nós damos o benefício da dúvida.
7.5/10

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