REVIEW: Apparat - The Devil's Walk


Quando somos abraçados pelo tempo frio e cinzento, pelo vento e pela chuva, mais depressa nos aconchegamos à melancolia, à nostalgia, mais depressa nos aconchegamos a qualquer coisa. A própria física o impõe. Se o calor dilata os corpos, o frio, naturalmente, os deixa mais próximos. Está ainda demasiado calor para se ouvir Apparat. Nada que a imaginação não cure, ainda mais quando The Devil’s Walk nos empurra para esse universo tão gelado, espontaneamente Sigur Rós, onde o arrepio é um som que nos lembra de algo emocionante.
Apparat é Sasha Ring, um DJ/produtor alemão, que aqui lança um álbum, passe a expressão, pouco electrónico para um assumido DJ. The Devil’s Walk é mais orgânico que isso e vive um pouco da espécie de primavera árabe que revolucionou a música electrónica, desde o início do ano, com artistas como James Blake, Nicolas Jaar ou Jamie XX, que acabaram por pular cercas entre géneros. Prova disso é a nova designação geral de post-dubstep que lhes foi atribuída ainda virgem. São, hoje, muito frescos os vários terrenos dentro da electrónica e é, por isso, difícil rotular certas coisas. E isso nem é bem preciso.
Numa primeira leva, The Devil’s Walk transporta-nos para esse lugar inóspito, complexo em texturas, com diversos momentos que lentamente evoluem e que rebentam em momentos de alguma tensão. São estes crescendos que mais facilmente nos levam ao arrepio. Ouçam-se Black Water ou Ash Black Veil. Muitas vezes, não escutamos canções de um homem só. Quer isto dizer que parecem canções de banda, muitas delas bem detalhadas com arranjos de vários pares de mãos, frágeis e cristalinos, mas que fazem a diferença. Como em King of Limbs – aqui o Thom Yorke dos tempos mais recentes parece um ponto de referência e prova disso é Song Of Los ou novamente Ash Black Veil.
Sasha Ring ganha assim uma certa essência bem mais ambient e experimental, com cavaquinho à mistura, um pouco a par das sonoridades que têm vindo a ser sedimentadas este ano. Há uma série de excelentes ideias que tornam este ano num ano especial. Ring é prolífico em tê-las, mas também se perde um pouco nelas e deixa-as, por vezes, numa espécie de limbo direccional. Mas se esse limbo é onde queremos ficar, então The Devil’s Walk é um sol de Inverno.
7.9/10

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