REVIEW: Wu Lyf - Go Tell Fire To The Mountain

 
Foi ainda no dia 18 de Agosto que o senhor Jarvis Cocker filosofava em pleno palco sobre como querer deixar qualquer coisa parada, sem a mudarmos propriamente, não faz com que ela fique igual. E no meio de uma loucura tão transparente, lá ouvimos um rasgo de genialidade. E mais uma vez a prova que entre as duas está um ténue espaço. 
Olhando o que quer que seja pelo seu espírito torna tudo bem mais claro. Os Wu Lyf não parecem acreditar num mundo basicamente pelo olhar ou pelo toque. Não acreditam num acorde de guitarra como um acorde de guitarra. Parece mais do que isso. 
Depois de todo o misticismo à sua volta, com a recusa de entrevistas e de uma assumida permanência no anonimato, lá foram dando provas que ajudaram o povo a entender a sua filosofia. Não se percebia de onde vinha o nome Wu Lyf – uma espécie de sigla para “World Unite – Lucifer Youth Foundation” – bem como uma série de vídeos e imagens que agora até fazem lembrar os recentes motins de Londres. A banda já veio referir que nada disso interessava realmente, queriam basicamente ser diferentes: “It was never about anonymity or mystery”.
Tudo se parece assemelhar então a algo bem mais simples. "Narcissism seems to have become such a cultural norm that if a kid doesn't care to publish his face, print his name and publish his biography then they pin you up for the easy way out." Os Wu Lyf são simples artistas de música e sobretudo seres humanos com as suas questões existenciais e os seus pensamentos mais ou menos profundos. No que realmente interessa – a música – parecem transmitir uma nuance de influências musicais, como que se tivessem chegado a uma biblioteca e, aleatoriamente, tivessem rasgado páginas dos mais diferentes livros e com o que tinham nas mãos montaram Go Tell Fire To The Mountain. Ouvem-se rasgos de post-punk, math rock, rock experimental, até alguns cheirinhos pop. É uma sonoridade bastante própria na verdade. Há todo um espírito revolucionário também. Uma sujidade e densidade sonoras, uma completa esquizofrenia, sofreguidão, raiva. Um suster de respiração durante todo o album pela voz de Ellery Roberts, muitas vezes incompreensível, uma lírica levada sério com versos fáceis mas nem por nada menos rough: “No matter what they say, dollar is not your friend”. Gravado numa igreja abandonada Go Tell Fire To The Mountain dá frutos até por isso. Escutamos um constante eco que aprofunda todo este sentimento que vem sendo descrito. Cave Song, Spitting Blood, Dirt, Concrete Gold podiam parecer loucura. Mas não, são génio.
8.5/10

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