REVIEW: Little Dragon - Ritual Union

Ir à Suécia e voltar sem pop é como ir a Belém e voltar sem os ditos pastéis. A lista é interminável e apenas a título de exemplo: Robyn, Peter Bjorn and John, Fanfarlo – Little Dragon idem aspas. Este bichinho mitológico que se diz pequeno, já deixou em parte de o ser. Desde 2009, ano de lançamento de Machine Dreams, o segundo da banda, que se foram acumulando colaborações e consequentes boas canções – ouça-se Empire Ants, um dos temas mais paradisíacos de Plastic Beach. Ou ainda mais recentemente a mãozinha que deram a SBTRKT em Wildfire. Falamos de bons amigos, de boas companhias.
Se neste ramo apostas houvesse, Ritual Union seria para um apostador desatento um banal exercício pop. Mas, seguindo as pegadas do hype à volta deste lançamento, talvez fosse esta a altura ideal para apostar num álbum capaz de uma pop tiki-taka-super-goleadora. No futebol, jogar em 4-4-2 ou em 4-3-3 é uma questão táctica que se equipara musicalmente a dançar a ritmos mais downtempo ou mais synthpop. Será?
Em Ritual Union vivemos esses diversos ritmos, embora mergulhados numa só coreografia. Quer isto dizer que há uma série de estados de espíritos que raramente saem da casca: uma dança que não passa de um bater de pé, como Belém sem pastéis. A composição bastante simples das canções não é de todo um ponto fraco, se bem que algumas canções aparecem de certa forma esqueléticas, faltando-lhes algo mais que as encorpe.
Há na voz Yukimi Nagano uma essência sedutora e terna. É mais através dela que os synths ganham uma direcção mais contundente – Nagano transmite abertamente a mood de cada canção e ao longo do álbum funciona como um verdadeiro astro que vê o dia passar. Little Man é uma manhã quente, sorriso catchy a fazer lembrar o sucesso The Look de uns meio-irmãos Metronomy. Há alguma carne, algum músculo ainda em Shuffle a Dream ou Please Turn, ambas numa postura mais ousada e sexy. Vamos entardecendo progressivamente, apercebemo-nos disso em Precious, até aterrarmos, já de noite, em When I Go Out, onde encontramos um certo experimentalismo electrónico, tipo James Blake. São seis minutos a olhar para uma espécie de um inexplicável arco-íris nocturno; surpreendente.
As caras que contemplamos na capa de Ritual Union parecem-se com tantas outras antigas dos nossos avós. Se na altura já se forçavam sorrisos com “chesse’s!”, “smile’s!” ou tantas outras técnicas, não sabemos. Aqui sentimos isso. Também sorrimos, mas também forçamos.
7/10

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