REVIEW: Grouper - A I A

O que aqui vos trago é um 2 em 1. Liz Harris, a menina de Portland que esconde a sua cara por trás duma cortina de ambient e drone requintado, presenteia-nos em 2011 com um álbum duplo.  Alien Observer e Dream Loss são as partes que juntas fazem este A I A, cada qual com a sua própria e analógica identidade.
Afinal, o que é que Grouper vem trazer ao género? A resposta a isso fica em grande parte resumida às camadas de voz, que vão sendo acrescentadas, retiradas e recortadas, mas não sem antes serem bem embebedadas em reverb e delay. É a voz de Liz que ao surgir em "Moon Is Sharp", duma maneira que inevitavelmente faz pensar em shoegaze e claro, My Bloody Valentine, que realmente nos atira os primeiros ganchos e transporta ao longo dos quase 80 minutos que constituem este álbum duplo. No geral trata-se de música muito delicada, diria até que com um carácter bem feminino, mesmo que por vezes atravesse a fronteira e vá beijar as vizinhas terras do noise. E é a subtileza com que tal é feito que traz à memória um coração apaixonado; furioso, sim, mas  não menos real ou bonito.
E se em Alien Observer reinam guitarras e teclas mais suaves e etéreas, em Dream Loss as coisas parecem tornar-se um pouco mais sombrias e barulhentas, tão bem é exemplo disso "I Saw a Ray", em que é bem audível toda uma parede de som distorcido. "Então, despacha-te lá e diz qual das partes é melhor." Alien Observer, e nem hesito muito em responder. Não sei se por ter sido a primeira das duas partes que escutei, mas ainda assim, há momentos brilhantes e o que acaba por brilhar mais é mesmo a última faixa do disco. "Come Softly" podia ter sido escrita por Angelo Badalamenti e ser escutada nos créditos finais de Twin Peaks. Há todo uma atmosfera sexy e ao mesmo tempo frágil nas palavras que Liz Harris vai cantando num quase sussurro. Como se triste, encostasse os seus lábios aos nossos ouvidos, e nos pedisse para puxar-lhe para fora do negro sonho que é esta sua música.

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