REVIEW: Cansei de Ser Sexy - La Liberación

Um dos maiores sucessos da new rave na cena indie dos anos 00 foi um grupo brasileiro que apareceu por volta de 2005/2006 com músicas que faziam referência aos Death From Above 1979, Jennifer Lopez e Paris Hilton, tinham também músicas em inglês e português, um inglês com um sotaque aquecido pelos ares abaixo da linha do Equador e um visual interessante. Os Cansei De Ser Sexy vieram agitar as mentes certinhas que estavam habituadas a Franz Ferdinand, Arcade Fire ou Bloc Party, mas que já eram influenciadas pelas Le Tigre e até mesmo M.I.A. O que fez com que a aceitação fosse tão fácil, rápida e imediata, tendo sido quase que automaticamente sugados por uma Europa sedenta de música nova e aroma tropical.
O primeiro LP homónimo foi um sucesso que correu todo o mundo, tenho mesmo chegado por vezes consecutivas aos melhores festivais norte-americanos e asiáticos, já para não mencionar o furor que fez nos festivais por toda a Europa. Músicas como “Let’s Make Love And Listen Death From Above”, “Alala”, “Off The Hook” e até mesmo as cantadas em português, como “Superafim”, “Acho Um Pouco Bom” ou “Bezzi” foram ouvidas e ouvidas vezes sem conta, faladas e criticadas em vários meios e levaram a que se formasse uma corrente de fãs mundial. Pena que não tenha durado como se queria.
Em 2008 é lançado “Donkey”, que esmoreceu um bocado toda a excitação que tinha sido criada à volta dos CSS, já era um álbum mais limpo, mais rock e mais controlado. Acabou por não conseguir manter o nível esperado. Como foi bastante recorrente nos anos 00, quase não há banda nenhuma que consiga repetir e manter o mesmo sentimento que era sempre criado no álbum de estreia. Normalmente o único que acabava por ser realmente indie.
Este ano é lançado o terceiro álbum da banda, “La Liberación”, que quase acaba por nem causar grande impacto, quase que caindo mesmo no esquecimento com músicas pouco arriscadas e atractivas. Em “I Love You” temos a receita habitual da new wave a que nos acostumámos a ouvir do grupo brasileiro, muitos sintetizadores, o sotaque único de Lovefoxxx, mas algo se passa lá pelo meio com umas vozes transformadas à anos 90 antes da explosão (fraquinha) da música. O single deste novo registo, “Hits Me Like A Rock”, remete para a continuação do álbum de 2008, “Donkey”, com um ritmo mais relaxado, não dando asas a grandes esperanças para voltarmos a ouvir os CSS do tempo de “I Wanna Be Yr J Lo”.
Por momentos, enquanto estou a ouvir o álbum, tenho um choque a pensar que estou a ouvir Ke$ha. O que se passou pela cabeça deste pessoal quando criaram “City Grrrl”? Ke$ha? Vá lá… E para não falar que se arriscaram também quando decidiram a cantar “La Liberación” em espanhol, que é salvo porque se lembram que também costumavam ser uma banda indie rock e acabaram por ser safos por umas guitarras, fazendo com que até acabe por soar a CSS com a energia do antigamente. E felizmente não as largaram logo, tendo ainda feito umas músicas interessantes, como é o caso de “You Could Have It All”, “Rhythm To The Rebels” e “Fuck Everything”.
Este terceiro registo da banda acaba por revelar duas facetas actuais da banda: uma que não faz ideia o que quer tocar e então pega numa mistura pop rasca com sintetizadores e aborrecimento e outra que se lembra que afinal tinham guitarras e baixos arrumados no vão da escada e que ainda sabem como tocar neles, tentando voltar a dar uma sonoridade mais ruidosa. Este ”La Liberación” acaba por parecer mais um primeiro álbum dos CSS do que o terceiro. Deve ser das bandas da época do boom new rave na cena indie, que começaram com um álbum a abrir, fantástico e nunca mais conseguiram fazer essa maravilha que angariou tantos fãs e que irremediavelmente acabar por perde-los, embora tentem não o fazer (temos como exemplo certeiro os Klaxons e os New Young Pony Club, que apesar de tudo, estes últimos, até não se safaram assim tão mal). Com “La Liberación” acaba-se por perceber que afinal fomos demasiado duros a criticar “Donkey”, o álbum de 2008, que acaba por estar bem melhor do que o que tentaram fazer neste terceiro LP da banda.
Embora os CSS não queiram ser esquecidos, nunca mais conseguiram mostrar o poder que surpreendeu a comunidade independente mundial em 2006, quando se descobriu que podia vir uma banda de new wave/indie rock do Brasil que vinha revolucionar que nem um furacão os ouvidos certinhos do hemisfério norte.
5/10
review por Pedro Pereira

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