REVIEW: You Can't Win, Charlie Brown - Chromatic

A vida facilmente consegue tornar-se poética. Entre espessos espaços de emoção colorimo-la a toda a hora, até a razão é um arco-íris de expressões diluídas na felicidade ou infelicidade dos momentos, num sim ou num não, numa vitória ou numa derrota – é pegar na derrota do pobre Charlie Brown e perceber que qualquer vida é um poema e, na verdade, bem mais físico do que muitas vezes aparenta ser.
É física a emoção em Chromatic. Se You Can’t Win, Charlie Brown o EP de estreia – tinha deixado uma promessa no ar, Chromatic vem cumpri-la na tranquila montanha de imperturbável estado de espírito que é a folk. Detrás da montanha vão-se sussurrando irrepreensíveis rasgos de talento por parte deste sexteto lisboeta. Há um lado campestre nos You Can’t Win, Charlie Brown, tal como o há nuns Fleet Foxes, colorido como nuns Animal Collective, uma espécie de subtileza acutilante (como um toque mesmo na ferida) bem chegada à essence de uns Grizzly Bear.
Com ou sem referências sónicas, os YCWCB demarcam-se, na verdade, bem de qualquer coisa que seja. Excepção feita à incontornável presença de David Santos – a.k.a. Noiserv – que parece atribuir à banda muito do seu toque, principalmente na melancolia inocente e infantil – que o próprio Charlie Brown também partilha – até a um certo lado mais experimental de que lhe caracteriza. Green Grass #1 tem muito de si.
Assim, torna-se difícil não se gostar dos YCWCB até pela sua sonoridade simpática e palpável, aqui esculpida em prosa. São um sonho colorido e gostosamente fácil Over The Sun/Under The Water ou I’ve Been Lost, arrepiantes como poucas A While Can Be A Long Time ou An Ending. Há uma série de pormenores que vão sendo interiorizados, tal como os loops bem pop felizes, as preciosas e múltiplas back vocals, até à lírica que dificilmente poderia não significar o poema que Charlie Brown teria escrito: um desabafo para finalmente ser feliz. E vencer.
8.3/10

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