REVIEW: X-Wife - Infectious Affectional

Como conseguem ser absolutamente fáceis os dois primeiros versos de Infectious Affectional – “I live abroad/and I´m chasing my dreams” – no empurrão de uma certeza da qual já ninguém parecia ter dúvidas. Este trio – assim insiste em classificar-se mesmo que em estúdio e em palco alugue um baterista – tem aspirações às cavalitas de sonhos espacialmente localizados fora daqui. E não vale a pena ser faccioso com bandas nacionais quando não se morre de amores por este país, a nação que não se cansa de exaltar feitos do passado, musicalmente recua à sua mãe Amália para lembrar dias de ouro. Com coisas destas, não se entende que dias terão sido esses.  
Felizmente os X-Wife já vão no terceiro álbum. Infectious Affectional tem nas mãos a herança do efervescente Are You Ready For The Black Out, um quase irmão gémeo de uns Franz Ferdinand: ser simples e feliz, alma groovy, onde o céu é o riff mais viciante de todos. Qualquer comparação possível com os X-Wife está a esse nível. Abramos simplesmente o jogo, Infectious Affectional tem muito para dar. Tem mais sumo para dar do que alguma vez se tentou espremer de um Angles ou de um Suck It And See – os tais intocáveis deuses do Olimpo. É aqui que, com pena, as aspirações batem num muro inviolável, uma internacionalização que não acontece por mais que urja ao juízo da justiça.

Infectious Affectional é o álbum mais equilibrado da banda. Uma infecção muitíssimo afectuosa, a sabedoria de um cosmos entre um lado mais rock’n’roller e outro mais disco à 80’s – sim, porque se há imagem em que Infectious Affectional se deixa retratar é numa discoteca com uma espécie de rei da pista de dança com calças à boca de sino, um fato coberto de lantejoulas e uns óculos em forma de estrela repetindo interminavelmente a palavra dance como em Little Love ou no imperativo de Keep On Dancing – canção que vocalmente tem quase a mesma alucinação de um David Byrne entoando Psycho Killer – os Talking Heads já eram uma conhecida referência. João Vieira potencia a sua habilidade vocal e torna-a numa indomável besta de força catchy recheada de um impressionante talento teatral. O sumo é imenso e não enjoa: o início bem Cut Copy de Stay In, a faceta New Order de Wonderman ou – que se lixem as comparações – o momento mais pausado em Across The Water e a anedota lírica de White Shoes são mais dois hinos bem X-Wife para o mundo ouvir. Fosse o mundo perfeito e assim o era realmente.
8.8/10

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