REVIEW: The Horrors - Skying

 Se todas as bandas tivessem direito a uma punchline a dos The Horrors teria de ser simplesmente Primary Colours. Com mais ou menos atenção, o mundo da melomania soube que havia qualquer coisa de facto a acontecer pelas mãos deste quinteto britânico. O juízo final resultou num exercício de irrefutabilidade – Primary Colours era um verdadeiro rasgo de magia (negra) que, valha a verdade, até acaba por tornar Skying num daqueles difíceis segundos álbuns.
Faris Badwan e companhia reencarnavam uma qualquer personagem que metesse medo. Diga-se de passagem, mergulhada numa intrespassável densidade digna de um Nick Cave naquela sua fase mais assustadora. Control, o filme de quando Anton Corbijn quis reencarnar - sem cores - os Joy Division, é uma lembrança recorrente evidentemente na sonoridade mas, principalmente, naquele sentimento de tensão, como se respira em Manchester e em toda a Inglaterra urbana, húmida e só. Fosse garage rock, punk ou gótico – fosse o rótulo que fosse – os The Horrors funcionaram na sua forma etérea, sem que representassem, de forma alguma, um breakthrough sónico.
Cumprimentamos Skying sem cerimónias e rapidamente ficamos amigos para a vida, tipo bests forever. Não é nada repescado citar de novo os Joy Division para celebrarmos uma nova atmosfera: “A change of speed, a change of style / A change of scene, with no regrets / A chance to watch, admire the distance” - tudo isso muda em Skying. Mudemos de cidade também, fiquemos em Inglaterra (tudo aqui se passa por lá), numa qualquer praia do sul, Badwan esteve lá e ficou mais abstracto liricamente, curto a descrever, sintético e intenso, canta ao céu, ao mar, ao tempo, vive como um verdadeiro frontman que cria um grande espaço para si - bem mais do que ao vivo.
Há um raro lustre na sonoridade de Skying, logo em You Said - optimismo disfarçado de uma pop bem sombria mas cromática também em Still Life, o single que funcionará sempre como um primeiro feixe de luz a iluminar o negrume do passado. Entre momentos ainda mais The Cure ou até The Psychedelic Furs percebemos que estamos nos oitentas. Outro momento, a bipolar Endless Blue, primeiro cristalina, para depois embarcar num crescendo a partir tudo com a entrada de assanhadas guitarras – torna-se facilmente num dos melhores momentos do álbum. É aqui bom ouvir canções com volume e espaço para desenvolverem, sem que dêem uso ao tédio – são estas também que mostram a consistência e a maturidade da banda. Há uma imensidão tocante para os mais de sete minutos de Moving Further Away e de Oceans Burning (!). Esta contemplação bem cinematográfica abarca parte do abstracto às vezes indefinível de Skying, perdido desde o fundo do mar até ao céu. Lá, está ao colo de Deus: merece a ternura.
8.5/10
Ouçam o álbum inteiro em stream já aqui.

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