ENTREVISTA: Noiserv, "tudo o que faça som pode ser usado numa música"

Não se pode dizer que o projecto Noiserv seja propriamente desconhecido no panorama da música portuguesa. Criado em 2005 pelo "mestre do loop" David Santos, já lançou pela Optimus Discos e tem como principais trabalhos A Day in The Day of Days e One Hundred Miles From Thoughtlessness, tendo já pisado uma boa quantidade de palcos por aí fora (até aos Açores já foi), constituíndo uma das pérolas do som do século XXI a descobrir neste canto à beira mar. O Rui Paulino, curioso como é, entrevistou-o:
Sei que tens mais projectos, com outros músicos até. Mas porquê esta preferência em fazer música sozinho?
N: Não é uma preferência, acabou por ser uma necessidade. Em 2005 quando tudo começou, estava também envolvido noutros projectos mas, sentia a necessidade de ter algo mais introspectivo e pessoal, algo meu, a minha forma de ver o mundo transposta para a música, e assim tudo começou...

Qual foi a recepção inicial ao projecto?
N: Feliz ou infelizmente, este projecto começou de forma muito caseira sem as típicas editoras, planos de promoção e tudo mais. Houve sempre, no entanto, por parte de todos os que foram ouvindo, um grande apoio e vontade que eu continuasse, e assim fiz!

Suponho que tenhas levado algum tempo a habituar-te a trabalhar com loops e camadas. Foi sempre um desejo apresentar-se ao vivo?
N: É tudo uma questão de ensaio e de vontade; quando algo é novo claro que existe um periodo de adaptação, mas pouco tempo depois já faz parte de nós! Mais uma vez não foi uma vontade, foi uma necessidade. Queria conjugar mais do que um instrumento e a forma de o fazer foi recorrer ao trabalho com loops.

Um dos aspectos que acho mais curioso nas tuas performances é a maneira como conjugas todos aqueles instrumentos e objectos que à partida de musicais não têm nada. Como surgiu essa simbiose?
N: Surge da busca pelo som ‘perfeito’ e do facto de não se impôr uma barreira aos instrumentos a utilizar. Tudo o que faça som pode ser usado numa música, basta apenas que faça sentido aos nosso ouvidos.

Lembro-me de num concerto teres mencionado que o título da “Melody Pops” vem mesmo dos chupas de mesmo nome. Há pequenas histórias sobre todos aqueles instrumentos a que recorres? Como é que te chegaram às mãos?
N: Nem todos têm uma história própria, muitos partilham uma viagem vinda do ebay, e uma busca nocturna pelo leilão mais baixo. Existem outros com histórias muito giras, desde os encontrar abandonados na rua, de me serem oferecidos num país distante, de serem de amigos meus que por um motivo ou por outro me quiseram ou merecer até aos comprados numa normal loja de música.

Em 2008 foi lançado o “One Hundred Miles From Thoughtlessness”. O álbum vem acompanhado de diversos desenhos associados às diferentes músicas e até dum lápis. Quem foi o autor(a) das ilustrações e o porquê daquela mística quase infantil, facilmente associada ao álbum?
N: A autora das ilustrações é a minha prima Diana Mascarenhas, pessoa que geralmente me acompanha nos concertos ao vivo, fazendo ilustração em tempo real. Não vejo o conceito do disco como algo infantil, a ideia de um pequeno livro por terminar não tem obrigatoriamente uma conotação infantil tem como base o facto de eu achar que cada um deve dar o seu cunho pessoal às coisas, as músicas são parte de mim e parte da forma como vejo este mundo mas quando alguém compra o disco e o pode colorir a seu gosto, aquelas músicas deixam de ser 100% minhas e passam a ter um novo enquadramento e uma nova história.

Por falar em ilustrações; recentemente a tua música tem sido ligada ao cinema. “José e Pilar” e “Sessão Dupla”, por exemplo. Porque achas que a tua música é tão bem e facilmente associada a imagens?
N: Não te sei responder em concreto a isto, fico muito feliz que assim seja porque desde sempre que sinto um grande fascínio por bandas sonoras e por descobrir a melhor relação música/imagem. No entanto acho que estas coisas não se explicam, ou funcionam ou não funcionam e nos últimos tempos tenho-me apercebido que a minha música tem essa capacidade.

Supõe que no mundo tudo é possível. Com que artista gostarias de trabalhar/colaborar?
N: Eu acho que no mundo tudo é possível, por isso pode ser que um dia eu seja surpreendido por um telefonema do Thom Yorke. :P

Há algum palco com que sonhes? Qual é o futuro para o Noiserv?
N: Não sonho em especifico com nenhum palco, acho que independentemente do palco o importante é que as pessoas gostem de te ouvir e sintam algo com a tua música. Por isso, se me perguntares se há algo com que sonhe respondo-te que sim, que (...) amanhã/depois de amanhã/daqui a um ano/dois anos/daqui a uma vida as pessoas continuem a gostar do que eu gosto de fazer... O futuro é um pouco isso, continuar o caminho que fui percorrendo até aqui. Em termos práticos um novo longa-duração é um futuro que quero muito próximo! :)
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DOWNLOAD: A Day In The Day of Days

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