REVIEW: Fleet Foxes - Helplessness Blues

Faz eras que o “baroque harmonia pop jams” (o folk auto intitulado dos Fleet Foxes) parece ecoar um pouco por aí. A aparente banalidade desse eco ganha uma particularidade tão única e sublime que faz de facto jus ao nome que os seus autores lhe dão. Isso é, sem dúvida, uma valente proeza, tanto que ficou bem erguida a bandeirinha da mais-que-revelação do universo da música folk, em meados de 2008.
Mas bem passadas que estão essas tais eras desde que os transcendentes ao tempo, entenda-se dinossauros da coisa: Bob Dylan, Neil Young ou ainda Simon & Garfunkel – praticavam cada um, um “baroque harmonia pop jams” à sua maneira, que tornou cada uma das suas temporalidades um ontem, um hoje e um amanhã, eis que surge um salto que 40/50 anos podia fazer dar, mas que parece, afinal, nunca ter sido dado pelos Foxes. É por isso que conseguem soar a qualquer coisa só ao alcance dos tais dinossauros. É esse o seu mérito.
No homónimo e incontestavelmente belo Fleet Foxes (2008), a vida por detrás da montanha virava monumento, virava clássico para a eternidade. Cinco camponeses barbudos com um certo ar deslavado desabafavam sobre a sua tão chegada mãe Natureza e sobre uma natureza muito pessoal e interior, algo tímida, mas com muito a dizer. O sentido perdido de pureza, a composição excessiva, a inquietude que arranha a existência de Robin Pecknold transporta-o até os dias de hoje e livra-o dessa era dos dinossauros. As tosses de Pecknold, aquilo que o perturba é oferecido a casa verso numa poesia completa e complexa de sensações que arranja perfeitamente o seu lugar na imperturbável quietude das strumming guitars, entenda-se o pão nosso de cada dia desta família.
E não há muito mais pão do que esse na verdade, nem muito mais se serve em Helplessness Blues que não tivesse sido servido antes. A pureza compõe-se um pouco mais mas não perde nunca o seu significado. Se em Fleet Foxes vivíamos num constante “esta tem piada” ao longo da audição muito devido à distinta beleza de cada canção, aqui esse trabalho, essa procura, revela-se ligeiramente menos directa. A abrir, Helplessness Blues não se vende, não se conquista à primeira vista. Mas à medida que a intriga cresce, chegam sucessivos climaxes: Sim Sala Bim é um crescendo arrepiante, Helplessness Blues, a title-song faz irromper todo o talento lírico que Pecknold ainda escondesse, a cristalina Blue Spotted Tail é quase música de criança com todos os seus why’s e Grown Ocean fecha o álbum como se fechasse o concerto mais perfeito de todos. E imaginando o momento, percebemos o crime que é Helplessness Blues não visitar o festival mais atrás da montanha do país.
Ouçam o álbum enquanto está disponível para stream no site da NPR.
8.6/10 

           
             

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