Não é preciso ter um doutoramento em The Drums para perceber que estes senhores usufruem de uma receita muito própria com a qual confeccionam as suas canções. Com maior ou menor travo a ironia ou a puro divertimento, o bolo sabe quase sempre ao mesmo.
Desde o homónimo que nunca chegou a defraudar as expectativas de praticamente ninguém, apoiado por um EP que lhe fazia juras de sucesso – muito por causa do mega hit antecipado Let’s Go Surfing – que ouvimos as mais diversas comparações: há quem os chame mais Beach Boys, há quem os chame mais Joy Division. São um pouco dos dois, mas na verdade são muito The Drums e é isso que lhes vale algum merecido destaque. Não são, de forma alguma, uma banda de clássicos. São canções divertidas? Sim. E até nos fazem dançar? Sim. Mas isso só não chega. A música dos The Drums é algo efémera – hoje toda a gente ainda guarda o “oh mama, I wanna go surfing” quase da mesma maneira que o largou quando dele já se tinha enjoado.
O entusiasmo para Portamento subiu ligeiramente aquando da chegada do single Money, (a ouvir em baixo), canção que não passa ao lado de ninguém e que tenta realmente reeditar o sucesso do hit que já tanto referimos. E Money é, de certa maneira, a prova viva de que a receita não mudou: guitarras que guiam canção com o espírito de uma anedota, percussão básica, um beat muito primário mas que potencia a dança e toda a teatralidade de Jonathan Pierce até ao refrão simples, on repeat. Parece fácil em What You Were ou I Don’t Know How To Love.
Jonathan Pierce – para além de andar a mandar desnecessários bitaites a quem o incomoda – sempre adoptou muito a figura infantil, como que se o seu alter-ego fosse ele próprio em criança. Há uma série de referências ao passado e a questões tontas e inocentes sobre a morte como em Book Of Revelations: “I believe that when we die, we die” é só um exemplo. Nada de mal nisso, mas essa obsessão pela morte não ficou no filtro meramente lírico, tendo desta feita também chegado à sonoridade. Pierce, provavelmente abalado com aquilo que se passou no seio da banda com o divórcio pouco amigável de um dos seus elementos, oferece uma série de canções mais escuras. Como que se desta vez não tivesse ficado no quarto com vista para o mar que o inspirou para The Drums. Agora ficou virado para a parede, ficou virado para si mesmo. Please Don’t Leave tem a acalmia característica de uns Beach Fossils enquanto If He Likes It Let Him Go ou In The Cold são boas canções assumidamente tristes. E esse é o maior alívio de Portamento. Mas como Pierce canta: “there’s no heaven and no hell”. Nem 8 nem 80.
7.0/10
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