Gramatik, nascido e criado na Eslovénia, acorrentado a uma Europa Central, chegou-me aos ouvidos há um par de meses pela boca de um amigo e devo confessar que há muito que não ouvia algo de tão bom. Tem sido uma constante nas minhas playlists.
Com uma óbvia influência de um blues e funk, Street Bangerz Vol. 3 é um aperitivo delicioso para os fãs do 4/4. Um downtempo com excelentes samples de soul, funks, R’n’B, com um feeling como há muito não sentia. É inevitável a presença do “good old bum bap”, com uma escolha de samples que consegue uma harmonia entre a velha guarda e as novas escolas do beatmaking. Flip the Script, Muy Tranquilo, Balkan Express, são poderosas instrumentações de samples com linhas melódicas cheias de soul music. Os beats cheio de poder e bounce fazem-me recordar as produções de J-Dilla, Dj Krush, que nos remetem sempre para aquele universo do breakbeat intenso.
Gramatik aprendeu a tocar piano em miúdo e andou principalmente pela onda dos blues. Essa influência musical reflectiu-se mais tarde quando descobriu a samplagem, onde poderia cortar a seu bel-prazer as músicas que sempre tocou. Isso é muito evidente no final do álbum, onde Adriatic Summer Nights entra com melodias muitos orquestradas e aquele mellow que quase nos faz querer ouvir a voz de Issac Hayes. Somos depois guiados por uma conjugação sonora mais moderna em The Anthem até nos esbarrarmos com uma construção de samples absolutamente fenomenal que é a Muy Tranquilo. A beleza das harmonias, a escolha dos samples, tão distantes entre si, mas perfeitamente conjugados: o piano cheio de soul, a guitarra quase rock.
Não é possível negar a óbvia presença do hiphop nos seus beats. É a sua principal escola, e foi onde conseguiu encontrar terreno para conjugar as suas influências. On The Run, num sentido mais anos noventa do rap americano e Victory, como algo mais underground, são autênticos instrumentais com uma estrutura de rap muito evidente (intro-beat-bridge-chorus). Para fechar o conjunto de 20 óptimas músicas, Walking Down the Street despede-se com aquela sonoridade Jackie Brown, muito anos 70, cheia de groovy e muito catchy.
E agora o melhor. Para poder ouvir este senhor, a totalidade da sua discografia encontra-se disponibilizada, gratuitamente, pelo próprio autor, no seu website. É um defensor da música livre e são cada vez mais.
9/10
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